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Questão 60 Enem 2021 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 60

Sociedade colonial

De um lado, ancorados pela prática médica europeia, por outro, pela terapêutica indígena, com seu amplo uso da flora nativa, os Jesuítas foram os reais iniciadores do exército de uma medicina híbrida que se tornou marca do Brasil colonial. Alguns religiosos vinham de Portugal já versados nas artes de curar, mas a maioria aprendeu na prática diária as funções que deveriam ser atribuídas a um físico, cirurgiões, barbeiro ou boticário. 

GURGEL. C. Doenças a curas: o Brasil nos primeiros séculos. São Paulo: Contexto. 2010 (adaplado).

Conforme o texto, o que caracteriza a construção da prática medicinal descrita é a 

 

  

 

 



a)

adoção de rituais místicos.

b)

rejeição dos dogmas cristãos.

c)

superação da tradição popular.

d)

imposição da farmacologia nativa.

e)

conjugação de saberes empíricos.

Resolução

a) Incorreta. A prática medicinal, descrita como híbrida, não ocorreu a partir da adoção de rituais místicos, mas sim da interação entre os conhecimentos provenientes da prática médica europeia e da terapêutica indígena, que se amparava no amplo uso da flora nativa. 

b) Incorreta. A construção da prática medicinal não passou pela rejeição dos dogmas cristãos, tendo em vista que surgiu a partir da interação entre nativos e jesuítas, sendo esses, membros da Companhia de Jesus, ordem religiosa da Igreja católica fundada no século XVI. 

c) Incorreta. O texto demonstra justamente a construção e fortalecimento da tradição popular, já que a interação entre os conhecimentos dos jesuítas e os dos indígenas originou justamente a chamada "medicina popular brasileira".

d) Incorreta. O texto enfatiza que os colonizadores aprenderam na prática diária e no contato com os indígenas a medicina híbrida, que se tornou a marca do Brasil colonial. Ou seja, esse não foi um processo de imposição da farmacologia nativa, mas sim de aprendizagem a partir do contato entre duas tradições distintas de curar. 

e) Correta. Durante o período colonial, o número reduzido de médicos tornava recorrente a atuação de  jesuítas, curandeiros, barbeiros, benzedeiras e boticários nas questões de saúde, conhecidas como "artes de curar". Nesse processo, o contato dos jesuítas com a cultura e saberes indígenas foi fundamental, bem como a observação empírica de tais práticas. Os padres da Companhia de Jesus constataram, por exemplo, que os nativos portadores de febre (sintoma da malária) jogavam-se na água na tentativa de diminuírem a temperatura corporal. Os povos originários do Brasil beneficiavam-se amplamente da diversidade da flora de suas terras, de modo que os vastos conhecimentos da vida vegetal oriundos da sua familiaridade com a plantas os capacitaram para usar aquelas que possuíam propriedades medicinais. O conhecimento milenar da flora medicinal foi passado para os colonizadores, especialmente para os padres jesuítas, que ao deixarem por escrito diversas receitas, enfatizavam quais tinham sido ensinadas por indígenas. Tanto a medicina europeia como a nativa compreendiam a doença como uma invasão, ainda que suas causas pudessem ser entendidas de modos distintos, como uma praga divina, para os europeus, ou como um demônio da floresta, para os indígenas. No entanto, ainda que com terapêuticas divergentes, buscavam fazê-la sair do corpo e o encontro entre esses conhecimentos foi a base da chamada "medicina popular brasileira", com seus ingredientes principais amplamente difundidos pelos bandeirantes a partir do século XVII.