Por que o Brasil continuou um só enquanto a América espanhola se dividiu em vários países?
Para o historiador brasileiro José Murilo de Carvalho, no Brasil, parte da sociedade era muito mais coesa ideologicamente do que a espanhola. Carvalho argumenta que isso se deveu à tradição burocrática portuguesa. "Portugal nunca permitiu a criação de universidades em sua colônia". Por outro lado, na América espanhola, entre 1772 e 1872, 150 mil estudantes se formaram em universidades locais. Para o historiador mexicano Alfredo Ávila Rueda, as universidades na América espanhola eram, em sua maioria, reacionárias. Nesse sentido, o historiador mexicano diz acreditar que a livre circulação de impressos (jornais, livros e panfletos) na América espanhola, que não era permitida na América portuguesa (a proibição só foi revertida em 1808), teve função muito mais importante na construção de regionalismos do que propriamente as universidades.
BARRUCHO, L Oisponivei em: www.bbc.com. Acesso em: 8 set 2019 (adaptado).
Os pontos de vista dos historiadores referidos no texto são divergentes em relação ao
a) |
papel desempenhado pelas instituições de ensino na criação das múltiplas identidades. |
b) |
controle exercido pelos grupos de imprensa na centralização das esferas administrativas. |
c) |
abandono sofrido pelas comunidades de docentes na concepção de coletividades políticas. |
d) |
lugar ocupado pelas associações de acadêmicos no fortalecimento das agremiações estudantis. |
e) |
protagonismo assumido pelos meios de comunicação no desenvolvimento das nações alfabetizadas. |
a) Correta. Para o historiador brasileiro José Murilo de Carvalho, a sociedade brasileira era mais coesa ideologicamente que a espanhola, ou seja, apresentava menor número de divergências e particularismos. De acordo com seu argumento, a ausência de universidades na colônia portuguesa favoreceu essa coesão, já que as universidades seriam polos de visões e concepções ideologicamentes distintas. Já o historioador Mexicano Alfredo Ávila Rueda argumenta que, apesar das diversas universidades criadas na América espanhola, essas eram, em sua maioria, reacionárias, ou seja, não contribuíriam para abalar a coesão ideológica, conforme sugerido por Carvalho. Na visão de Rueda, o que efetivamente abalou a coesão nacional foi a circulação de materiais impressos, que teria favorecido a disseminação de distintas visões, bem como a construção de regionalismos. Assim, os historiadores divergem em relação ao papel desempenhado pelas instituições de ensino na criação de múltiplas identidades, já que Carvalho considera esse papel como fundamental, enquanto Rueda minimiza-o, devido ao perfil dessas instituições.
b) Incorreta. Os historiadores não mencionam os grupos de imprensa, mas sim a livre circulação de impressos e as instituições de ensino universitário.
c) Incorreta. Não há no texto nenhuma menção a abandono sofrido pelas comunidades de docentes, além de não ter havido universidades no Brasil colônia.
d) Incorreta. Não há menção no texto às agremiações estudantis.
e) Incorreta. Embora Rueda mencione o importante papel da livre circulação de impressos (jornais, livros e panfletos) na América espanhola, o historiador mexicano está refletindo sobre seu papel na construção de regionalismos, e não no "desenvolvimento de nações alfabetizadas". Além disso, tal ponto não é mencionado por Carvalho, não podendo, portanto, ser um ponto de divergência entre os dois historiadores.