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Questão 73 Enem 2021 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 73

Bill Aberdeen

Durante os anos de 1854-55, o governo brasileiro — por meio de sua representação diplomática em Londres — e os livre-cambistas ingleses — nas colunas do Daily News e na Câmara dos Comuns — aumentaram a pressão pela revogação da Lei Aberdeen. O governo britânico, entretanto, ainda receava que, sem um tratado anglo-brasileiro satisfatório para substituí-la, não haveria nada que impedisse os brasileiros de um dia voltarem aos seus velhos hábitos.

BETHELL, L. A abolição do comércio brasileiro de escravos. Brasília: Senado Federal, 2002 (adaptado).

As tensões diplomáticas expressas no texto indicam o interesse britânico em:



a)

estabelecer jurisdição conciliadora.

b)

compartilhar negócios marítimos.

c)

fomentar políticas higienistas.

d)

manter a proibição comercial.

e)

promover o negócio familiar.

Resolução

a) Incorreta. A Bill Aberdeen (Lei Aberdeen) não pode ser considerada como uma medida conciliadora, tendo em vista que foi acusada enfaticamente de ferir a soberania nacional pelas elites brasileiras. Ou seja, as tensões diplomáticas envolvidas em sua criação não revelam uma postura conciliatória, mas sim a de confrontar a persistência do tráfico atlântico de escravos no século XIX.

b) Incorreta. Não havia um interesse inglês em compartilhar negócios marítimos com a Bill Aberdeen, mas sim o de coibir o comércio atlântico de escravos.

c) Incorreta. A oposição inglesa ao tráfico negreiro não era pautada em políticas higienistas, mas sobretudo em questões econômicas. Afinal, o surgimento de uma classe assalariada em substituição aos escravos nos países americanos representaria uma oportunidade de negócios para a Inglaterra, já que formariam mercados consumidores potencialmente mais atrativos para os produtos britânicos.

d) Correta. O texto faz referência ao Bill Aberdeen (1845), medida aprovada pelo parlamento britânico  que equiparava o tráfico de escravos à prática de pirataria no Atlântico. A lei também previa que os envolvidos no comércio de cativos seriam julgados na Inglaterra e através de leis inglesas, disposições que almejavam evitar a possível impunidade dos mercadores de escravos no estrangeiro. Ou seja, com a Bill Aberdeen, a Coroa Britânica buscava coibir o comércio de escravos ainda em vigência no Atlântico, destinados especialmente para o Brasil à época - a despeito da Lei Feijó, aprovada em 1831 e que em teoria abolia o tráfico de escravos para o país. A medida gerou forte reação da elite política brasileira, que considerava a ação inglesa como uma afronta a soberania nacional e aos interesses econômicos brasileiros. Por outro lado, ela exerceu uma pressão internacional fundamental para a aprovação da Lei Eusébio de Queirós, em 1850, que pôs um fim definitivo ao comércio atlântico de escravos para o Brasil.

e) Incorreta. Tanto a diplomacia inglesa como a Bill Aberdeen carecem de quaisquer elementos que permitam associá-las a um interesse de promoção de negócios familiares. Seu intuito era o de encerrar o tráfico de escravos no Atlântico, comércio que persistia, entre outros pontos, devido à leniência das autoridades brasileiras no combate à prática.