A filosofia é como uma árvore, cujas raizes são a metafísica; o tronco, a física, e os ramos que saem do tronco são todas as outras ciências, que se reduzem a três principais: a medicina, a mecanica e a moral, entendendo por moral a mais elevada e a mais perfeita porque pressupõe um saber integral das outras ciências, e é o último grau da sabedoria.
DESCARTES. R. Pricípios da filosofia. Lisboa: Edições 70, 1997 (adaptado).
Essa construção alegórica de Descartes, acerca da condição epistemológica da filosofia, tem como objetivo:
a) |
sustentar a unidade essencial do conhecimento. |
b) |
refutar o elemento fundamental das crenças. |
c) |
impulsionar o pensamento especulativo. |
d) |
recepcionar o método experimental. |
e) |
incentivar a suspensão dos juizos. |
A questão traz elementos de epistemologia filosófica, ao apresentar um texto clássico de René Descartes, conhecido filósofo e matemático. O pensador, do ponto de vista de seus objetivos mais gerais, empenhou-se em questionar a tradição, de forma ampla e profunda, para reconfigurar as bases do conhecimento. Não por acaso, tornou-se referência na história do pensamento Moderno. Tal reconfiguração iniciou-se pela metafísica, raiz de toda a ciência, como diz o texto, e se estendeu para as suas reflexões matemáticas e morais, ambas de cunho mecanicista. Tudo a partir de um único ponto, aquele ponto que Descartes chamou o mais seguro e indubitável: o fato de que existimos enquanto seres pensantes todas as vezes que pensamos. É nesse sentido que:
a) Correta. Podemos, sim, afirmar que o conhecimento é fundamentalmente interligado, no sentido de estar, todo ele, em uma mesma "árvore" (para usar a metáfora do texto).
b) Incorreta. O autor não pretende refutar os elementos fundamentais das crenças. Sua preocupação, como diz o enunciado do exercício, é epistêmica, o que faz com que ele não se interesse, sobretudo e essencialmente, pelos argumentos e justificativas do campo teológico.
c) Correta. A alegoria que Descartes utiliza no texto em questão não pretende impulsionar o pensamento especulativo. Ele é claro, objetivo e direto ao mencionar os vários tipos de saber unidos, sob um mesmo ponto de partida - a metafísica sabidamente descrita pelo seu raciocínio metódico. Se há textos especulativos desse pensador (como aqueles em que suspeita de todos os conhecimentos que foram-lhe ensinados), esse não é um deles.
d) Incorreta. Considerando o debate epistemológico moderno, evidenciado no texto e no enunciado, não atribuímos o "método experimental" à escola racionalista, da qual Descartes pertence. Essa expressão, no contexto desse exercício, caberia à escola empirista e seus representantes, se fosse o caso.
e) Incorreta. "Suspensão do Juízo" é uma expressão comumente atribuída aos céticos, por conta de Pirro de Élida e seu conceito, grego, "epoché". Significa "abdicar-se" de uma "verdade", algo desproposital no contexto da filosofia cartesiana.