Minha fórmula para o que há de grande no individuo é amor fati: nada desejar além daquilo que é, nem diante de si, nem atrás de si, nem nos séculos dos séculos. Não se contentar em suportar o inelutável, e ainda menos dissimulá-lo, mas amá-lo.
NIETZSCHE apud FERRY, L. Aprender a viver: Filosofia para os novos tempos.
Rio de Janeiro: Objetlva, 2010 (adaptado).
Essa fórmula indicada por Nietzsche consiste em uma critica à tradição cristã que:
a) |
combate as práticas sociais de cunho afetivo |
b) |
impede o avanço cientifico no contexto moderno. |
c) |
associa os cultos pagãos à sacralização da natureza. |
d) |
condena os modelos filosóficos da Antiguidade Clássica. |
e) |
consagra a realização humana ao campo transcendental. |
O exercício aborda um tema clássico da filosofia ocidental: a ética. Para tanto, utiliza-se do trecho de um livro que traz várias reflexões morais para o "dia-a-dia": "Aprender a viver", do Professor neokantiano Lucy Ferry. Nessa obra, o referido professor cita vários nomes da história da Filosofia, até chegar no nome do filósofo alemão do século XIX, Friedrich Nietzsche. Ao falar do autor, utiliza-se da expressão "Amor fati", conceito que Nietzsche utiliza para pensar as possibilidades de uma nova moral. Mas embora tudo isso seja "pano de fundo" da questão, o enunciado deixa claro que a pretensão do exercício é simples: averiguar se sabemos qual a crítica que Nietzsche faz à tradição cristã. Nesse contexto:
a) Incorreta. O cristianismo não é conhecido por combater as práticas sociais de cunho afetivo. Portanto, não pode ser essa a crítica de Nietzsche. O pensamento cristão sempre se inspirou em ideias afetuosas, como o amor ou a caridade.
b) Incorreta. Nietzsche cita muitas vezes, em seus escritos, o cristianismo, mas não no intuito de criticá-lo pelo "avanço científico no contexto moderno". Suas críticas são no contexto moral, como se pode observar, por exemplo, em sua obra "A genealogia da moral".
c) Incorreta. A sacralização da natureza não ganha, necessariamente, caráter pejorativo, mesmo quando o cristianismo a associa aos cultos pagãos. Por conta disso, não poderia ser criticado pelo filósofo.
d) Incorreta. A história do pensamento cristão se alicerçou no pensamento dos filósofos da Antiguidade Clássica, uma vez que os principais teólogos da história "beberam" de Platão e Aristóteles: Agostinho e Tomás de Aquino. Logo, dizer que a tradição cristã "condena os modelos filosóficos da Antiguidade Clássica" seria um erro.
e) Correta. . Nietzsche critica a tradição cristã por entender as ações humanas, no campo da ética e da moral, por exemplo, como ações que devem se fundamentar (e se voltar) na metafísica, ou seja, nos princípios transcendentais. Para o autor, não devemos nos guiar por valores a priori, determinados pela história e "consagrado" pelas religiões ou outros tipos de "moralidades". Devemos questionar o valor dos valores e, como dizia o autor, "transvalorizar", a fim de que conseguíssemos ser senhor de nós mesmos, de nossa própria moral.