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Questão 87 Enem 2021 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 87

Temas da Sociologia Geração de 1950

Numa sociedade em transição, a marcha da mudança, em diferentes graus, está impressa em todos os aspectos da ordem social, especialmente no jogo politico, que nessas sociedades sempre apresenta padrões caracterlsticos de ambivalência, cujas raizes sociais se encontram na coexistência de dois padrões de estrutura social: o padrão tradicional, em declfnio, e o novo, emergente, em expansão. Em tais situações, é possível encontrar, simultaneamente, apoio para uma orrentaçao politica ou para outra que seja exatamente o seu oposto. O padrão ambivalente do processo politico, nas sociedades em desenvolvimento, é o que explica um dos seus traços mais salientes, e que consiste na tendência ao adiamento das grandes decisões. Resulta daí que a inércia política ou a convulsão política podem se suceder uma à outra em períodos surpreendentemente curtos.

PINTO, L. A. C. Sociologia e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975 (adaptado).

De acordo com a perspectiva apresentada, central no pensamento social brasileiro dos anos 1950 e 1960, o desenvolvimento do país foi marcado por:



a)

radicalidade nas agendas de reforma das elites dirigentes.

b)

anomalias na execução dos planos econômicos ortodoxos.

c)

descompasses na construção de quadros institucionais modernos.

d)

ilegitimidade na atuação dos movimentos de representação classista.

e)

vagarosidade na dinâmica de aperfeiçoamento dos programas partidários.

Resolução

No cenário da sociologia brasileira do século XX, encontramos até os anos de 1960 dois grandes momentos: as chamadas Geração de 1930 e Geração de 1950/1960. No primeiro caso, a missão de interpretar, pela primeira vez, a história do Brasil com olhares brasileiros (e não com os olhores estrangeiros, a exemplo do que aconteceu com o português), entendendo como o passado influía no então presente - começo daquele século. Apesar das críticas que podemos atribuir aos autores dessa geração, a tarefa, pode-se dizer, foi bem cumprida por Freyre, Holanda e Prado Júnior.

No segundo caso, porém, o objetivo parecia ter, parcialmente, se alterado: agora pretendia-se entender como o país poderia se modernizar, isto é, seguir em frente, pavimentando sua jornada. A sensação era de que precisávamos transitar entre um passado lusitano e um futuro propriamente brasileiro. Nesse quadro encontramos nomes como o de Florestan Fernandes e o de Costa Pinto, autor que motiva esse exercício. 

Não por acaso, o texto menciona coisas como "raízes sociais se encontram na coexistência de dois padrões de estrutura social: o padrão tradicional, em declínio, e o novo, emergente, em expansão". Nesse contexto:

a) Incorreta. "Radicalidade nas agendas de reforma das elites dirigentes" não podemos afirmar ter existido de forma uníssona. As reformas presentes na agenda de João Goulart, foram barradas pelas elites do país justamente por serem consideradas demasiadamente radicais. 

b) Incorreta. Não podemos dizer que as décadas de 50 e 60, no Brasil, seguiram planos econômicos ortodoxos. Há de se considerar, pelo menos, algumas medidas do governo democrático varguista e do governo JK como ousadas e inovadoras.

c) Correta. Como se diz no texto: "a inércia política ou a convulsão política podem se suceder uma à outra em períodos surpreendentemente curtos". Daí os "descompasses" na construção de instituições republicanas modernas que fossem capazes de "enterrar" nosso passado colonial e construir novas estradas.

d) Incorreta. Muitos foram os movimentos de representação classista durante o período histórico que o exercício aborda. Chamá-los de ilegítimos e dizer que o pensamento social brasileiro do período foi marcado por isso é equivocado. A "marca" do período é pensar a modernização brasileira, o futuro.

e) Incorreta. O próprio texto do exercício nos diz, nas palavras de Costa Pinto, que tudo, naquele momento histórico, poderia acontecer muito rapidamente. Não há de se falar, portanto, em "vagarosidade", como coloca a assertiva.