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Questão 59 Unesp 2022 - 1ª fase - dia 2

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Questão 59

Foucault Utilitarismo

Texto 1

    A ideia do panóptico coloca no centro alguém, um olho, um olhar, um princípio de vigilância que poderá de certo modo fazer sua soberania agir sobre todos os indivíduos [situados] no interior dessa máquina de poder. Nessa medida, podemos dizer que o panóptico é o mais antigo sonho do mais antigo soberano: que nenhum dos meus súditos escape e que nenhum dos gestos de nenhum dos meus súditos me seja desconhecido.

(Michel Foucault. Segurança, território, população, 2008. Adaptado.)

Texto 2

Em 2013 as revelações de Edward Snowden, ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, deixaram a noção de transparência democrática sob suspeita. Snowden revelou que a inteligência estadunidense realizava vigilância em massa de seus aliados e adversários políticos. A espionagem ocorreu logrando acesso legal ou forçado aos servidores de boa parte das maiores empresas de internet.

(Davi Lago. “O panóptico digital: por que devemos suspeitar da palavra ‘transparência’?”. https://estadodaarte.estadao.com.br, 29.08.2019. Adaptado.)

O fenômeno retratado nos excertos implica, diretamente,



a)

o reconhecimento da liberdade individual.

b)

o aperfeiçoamento da interação social.

c)

a diversificação do conhecimento popular.

d)

a ampliação de autoridade estatal.

e)

a valorização da responsabilidade coletiva.

Resolução

A questão aborda o conceito de vigilância e o traz para a sociedade contemporânea, por meio das denúncias a respeito da espionagem realizada por agências de inteligência dos Estados Unidos com utilização de novas tecnologias ligadas à rede mundial de computadores. Para abordar o assunto, recorre-se à noção de panóptico (o termo remete à totalidade do olhar), modelo de prisão exposto por Jeremy Bentham (1748-1832), pensador que trabalha com a ideia de moral a partir do utilitarismo. Essa prisão seria organizada de maneira circular, possibilitando uma vigilância completa, tanto por parte da segurança prisional quanto por parte dos presos sobre os outros presos. Michel Foucault (1926-1984), em sua obra Vigiar e Punir (1975), que comenta o nascimento da prisão moderna e a mudança da lógica punitiva (do castigo para a reforma e a vigilância), parte do panóptico de Bentham para argumentar que a nossa sociedade foi erigida sobre uma lógica panóptica de vigilância, e que instituições como a escola, a caserna, a igreja, além da própria prisão, são formas de vigilância fragmentada, ou seja, não é apenas um poder central que vigia o cidadão, mas os próprios indivíduos que vigiam-se uns aos outros.

a) Incorreta. O fenômeno da vigilância, intensificado nos tempos contemporâneos, não reconhece a liberdade individual, mas sim a nega e a desrespeita, já que barra as possibilidades de privacidade dos indivíduos.

b) Incorreta. Os excertos não abordam uma melhoria ou aperfeiçoamento nos mecanismos de interação social, mas sim constroem um racionínio que demonstra que uma maior possibilidade de interação - seja via comunicação direta, seja com a utilização de mecanismos virtuais - pode levar a uma maior vigilância de uns pelos outros e de agências governamentais e privadas sobre os cidadãos, adversários e aliados.

c) Incorreta. As possibilidades de conhecimento popular não são abordadas nos excertos e não são o foco das discussões sobre a sociedade panóptica e sobre as denúncias a respeito de vigilância governametal que emergiram em 2013. Porém, pode-se discutir como as novas formas de interação virtual possibilitam uma diversificação do conhecimento, ao mesmo tempo em que ampliam as redes de vigilância.

d) Correta. Considerando o ponto de vista do Estado, a emergência de novas formas de vigilância permite que essas práticas sejam utilizadas como uma forma de garantia de poder, ampliando a autoridade estatal por meio do grande fluxo de informações, que permite a governos se antecipar a acontecimentos, intervir em processos políticos, utilizar informações sigilosas como alavanca de influência e também ter um maior controle sobre a vida dos cidadãos comuns, que compartilham seus dados no ambiente da Internet sem ter controle sobre sua posterior utilização.

e) Incorreta. A discussão realizada pelos excertos não toca diretamente na questão da responsabilidade coletiva, já que fala de um poder centralizado que exerce um controle por meio de informações fragmentadas e vigilância múltipla. Dessa forma, existe um grande desequilíbrio de forças entre quem exerce o poder - e conjuntamente, centraliza as informações de vigilância - e o cidadão comum, parte do coletivo. Qualquer possibilidade de se valorizar a responsabilidade coletiva pulveriza-se em tal cenário, já que o controle exerce-se mais efizcamente sobre uma população desunida e sem senso de responsabilidade comum.