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Questão 35 Unesp 2022 - 1ª fase - dia 1

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Questão 35

Escravidão

[...] as irmandades de negros eram espaços permitidos dentro da legalidade, nos quais o escravo podia manifestar- -se fora de suas relações de trabalho. [...] Em certo sentido, era através da religião católica que o escravo encontrava algum lenitivo para sua situação. Tudo indica que a permissão para a criação das irmandades de negros tenha sido dada com o intuito de obter melhores resultados na cristianização dos escravos [...].

Paradoxalmente, os negros utilizaram as irmandades para resguardar valores culturais, em especial suas crenças religiosas. [...] Tudo leva a crer que, a partir da realidade vivida naquela época, bem como considerando as dificuldades, o negro recriou e reinterpretou a cultura dominante, adequando-a à sua maneira de ser.

(Ana Lúcia Valente. “As irmandades de negros: resistência e repressão”. In: Horizonte, v. 9, no 21, 2011.)

Segundo o excerto, as irmandades religiosas de negros, no Brasil colonial, eram



a)

organizações culturais destinadas à difusão do catolicismo e, paralelamente, à valorização do sincretismo religioso.

b)

confrarias em que era proibido, por ordens metropolitanas, o contato direto entre escravizados.

c)

templos em que era permitida, pelas autoridades coloniais, a realização de cultos religiosos de origem africana.

d)

espaços de imposição de princípios europeus aos escravizados e, simultaneamente, de manifestação de traços culturais de matriz africana.

e)

instituições de apoio e auxílio aos escravizados, criadas e mantidas por meio da atuação catequizadora dos jesuítas espanhóis.

Resolução

As irmandades eram associações leigas formadas para culturar um santo e eram constituídas conforme o grupo social e étnico (brancos e negros). Na região mineradora, em meados do século XVIII, a religiosidade foi um fator preponderante e as irmandades se espalharam por lá, sendo que em fins desse século existiam mais de 30 irmandades ativas nas Minas. Existiam irmandades devotas de Nossa Senhora do Rosário (negros), do Carmo, das Mercês (negros), Santa Ifigênia, entre outras. As igrejas dessa região foram erguidas pelas irmandades, além de estas organizarem procissões. 

a) Incorreta. O sincretismo religioso consiste na fusão e interação de elementos de diferentes religiões. Os  escravos eventualmente recorriam  aos símbolos  católicos  como  “disfarces”  de  práticas  religiosas  trazidas  da  África, operando-se assim o que é chamado de sincretismo religioso. Esse processo assumiu formas de diversas gradações, no entanto, não podemos afirmar que as irmandades o valorizavam. Conforme aponta o texto, a autorização para criação de irmandades visava obter melhores resultados na cristianização dos escravos. 

b) Incorreta. Segundo o texto, as irmandades eram espaços permitidos dentro da legalidade, bem como a participação dos escravos. 

c) Incorreta. Os cultos de origem africana não eram permitidos dentro das irmandades. O texto enfatiza que sua criação visava à melhoria da cristianização dos escravos, sendo contraditório com a ideia de estímulo às religões africanas. 

d) Correta. O texto aborda o aspecto contraditório das irmandades, que, embora visassem fortalecer a cristianização dos escravos, foram espaços de resguardo de valores culturais. A frequência dos contatos  entre escravizados, bem como a facilidade da língua comum, fazia com que as irmandades contribuíssem para a conservação de de diversas tradições africanas. Assim, ocorria um processo de amalgamação  de elementos religiosos africanos e católicos, contribuindo, conforme mencionado pela alternativa, com uma recriação e reinterpretação da cultura dominante. 

e) Incorreta. As irmandades de fato assumiam forte sentido de auxílio mútuo prestado entre seus participantes. Desempenhavam a  função  de auxílio,  em  caso  de  doença  e/ou morte, e proteção aos seus membros, bem como a compra de escravos postos à venda pelos senhores para alforriá-los. No entanto, a alternativa está incorreta, pois afirma que essas instituições eram mantidas por jesuítas espanhóis, sendo que não apresentavam nenhuma relação com estes e desenvolviam mecanismos próprios de manutenção.