Logo UNESP

Questão 37 Unesp 2022 - 1ª fase - dia 1

Carregar prova completa Compartilhe essa resolução

Questão 37

Processo de Independência do Brasil

O luxo e a corrupção nasceram entre nós antes da civilização e da indústria. E qual será a causa principal de um fenômeno tão espantoso? A escravidão, senhores, a escravidão. Porque o homem que conta com os trabalhos diários de seus escravos vive na indolência, e a indolência traz todos os vícios após si.

(José Bonifácio de Andrada e Silva, 1825. Apud: Ynaê Lopes dos Santos. História da África e do Brasil afrodescendente, 2017. Adaptado.)

A manifestação de uma das principais lideranças do país, logo após a independência política, revela a



a)

justificativa para a adoção, no Primeiro Reinado, de políticas agressivas de estímulo à imigração.

b)

disposição, majoritária nos setores que participaram do processo emancipacionista, de eliminar gradualmente a escravidão.

c)

campanha abolicionista sistemática, iniciada ainda no período colonial, dos cafeicultores paulistas.

d)

rejeição, de clara influência liberal-iluminista, da ideia de que os homens são desiguais por natureza.

e)

crítica, voltada aos setores social e politicamente hegemônicos do Brasil, à dependência do trabalho obrigatório.

Resolução

O texto Representação à Assembleia Geral Constiuinte e Legislativa do Império do Brasil sobre a escravatura, de José Bonifácio de Andrada e Silva, foi escrito em 1823, logo após a independência do Brasil. Nesse texto, Andrada e Silva apresentou suas ideias relativas à escravidão, bem como alternativas para contornar os problemas da permanência desta, no entanto, o texto não chegou a ser debatido entre os deputados presentes. A repercussão do discurso ocorreu somente na década de 1880, quando foi reeditado pelos abolicionistas. 

a) Incorreta. Embora tenha ocorrido imigração durante o Primeiro Reinado, não podemos afirmar que foram adotadas políticas agressivas para seu estímulo durante esse período. D. Pedro I buscou incentivar a  vinda de colonos, mas encontrou forte resistência da elite latifundiária que temia a perda de recursos do Estado. Foram criadas na ocasião, sob tutela do imperador, oito colônias de imigrantes, que tiveram seus recursos cortados pelo parlamento brasileiro. O texto de José Bonifácio de Andrada não se relaciona com tal contexto, já que sequer menciona a vinda de imigrantes, enfatizando somente a crítica à manutenção da escravidão. 

b) Incorreta. Os setores que participaram do processo emancipatório do Brasil eram formados, majoritariamente, pela aristocracia fundiária. Esses grupos tinham consenso em relação à manutenção da escravidão no Brasil, já que eram eles próprios proprietários de escravos. O discurso de Andrada e Silva inclusive não despertou interesse nos deputados da Assembleia Constituinte, que nem mesmo chegaram a debatê-lo. 

c) Incorreta. Embora alguns movimentos na Colônia tenham defendido a abolição, como a Conjuração Baiana (1798), não podemos afirmar que tenha existido uma campanha abolicionista sistemática nesse período. A campanha abolicionista ganhou força no Brasil durante o Segundo Reinado, com especial destaque principalmente após a Guerra do Paraguai (1864-1870), devido ao debate suscitado pela participação de cativos no conflito. Além disso, a expansão do café ocorreu somente em meados do século XIX, de modo que o grupo "cafeicultores paulistas" não existia na colônia.

d) Incorreta. A manifestação de Andrada e Silva não pode ser entedida como uma rejeição da desigualdade entre os homens. Seu discurso não trata da questão da igualdade/desigualdade entre os homens, enfatizando somente os males da escravidão para a sociedade brasileira. 

e) Correta. Para o autor, a escravidão representava um entrave ao desenvolvimento tecnológico e ao avanço da civilização no Brasil. Andrada e Silva denunciava que a escravidão contribuía para a perda das virtudes, sendo portanto uma fonte de corrupção social. Além disso, o autor relacionava vícios, como a indolência e a preguiça, à ausência de desenvolvimento tecnológico. Em seu pensamento, o escravo era um "selvagem da África", de modo que uma multidão imensa de escravos "brutais e inimigos" era um problema para a formação da nação brasileira. Vale destacar que tal discurso insere-se nos debates ocorridos imediatamente após a independência, período em que as reflexões sobre as definições dos rumos da nova nação eram pautas centrais.