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Questão 39 Unesp 2022 - 1ª fase - dia 1

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Questão 39

Processo de Independência do Brasil Independência da América Espanhola

O crescimento urbano, ao criar um mercado potencial mais amplo, estimulou igualmente o crescimento das indústrias artesanais e de algumas fábricas que empregavam uma força de trabalho concentrada [...]. Deixando de lado as características peculiares dessa sociedade urbana em expansão, a razão para a crescente debilidade de qualquer expressão política especificamente urbana era a posição peculiar da cidade no sistema econômico e fiscal, consolidado pelo contínuo progresso do setor com base na exportação de produtos agrícolas e pecuários.

(Tulio Halperín Donghi. “A economia e a sociedade na América espanhola do pós-independência”. In: Leslie Bethell (org.). História da América Latina, v. 3, 2004.)

 

O excerto apresenta uma experiência histórica vivida por alguns países hispano-americanos, e também pelo Brasil, entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do XX. Tal situação

 



a)

gerou sucessivas crises econômico-financeiras na região e acentuou o controle imperialista estadunidense sobre o setor industrial e financeiro dos países do continente.

b)

resultou da ausência de burguesias nacionais capazes de conduzir o processo de reorganização econômica e de decolagem na direção de economias autônomas.

c)

provocou um deslocamento do controle do poder político do campo para a cidade e o aumento da influência política das classes médias e dos setores populares.

d)

derivou da combinação entre os processos de modernização urbana e a inserção das economias latino-americanas na divisão internacional do trabalho.

e)

proporcionou um desenvolvimento acelerado do segundo e do terceiro setores das economias nacionais e uma maior integração comercial no continente.

Resolução

a) Incorreta. Não é possível afirmar que os EUA estabeleceram um "controle imperialista" sobre os setores financeiro e industrial na região, já que, durante a virada do século XIX e início do século XX, tal hegemonia era exercida pela Inglaterra. Por exemplo, no caso brasileiro, os bancos ingleses eram os principais responsáveis pelo financiamento e pelos empréstimos destinados ao Estado e à cafeicultura local, situação similar à boa parte dos países oriundos da antiga América Espanhola.

b) Incorreta. O texto base analisa a formação dos estados hispano-americanos no século XIX, abordando as características de seu desenvolvimento urbano e constatando uma posição "peculiar" da cidade no sistema econômico desses países. Tal posição peculiar deriva do fato de as cidades apresentarem algum processo de modernização e desenvolvimento próprios, embora permanecessem "débeis" no cenário político interno dos países analisados. Por sua vez, a alternativa sugere que tal condição é oriunda da ausência de uma burguesia "capaz" de estabelecer um processo de reorganização econômica e da formação de economias autônomas, justificando tal contexto apenas por tal motivo. Além de a afirmação oferecer uma justificativa única e insuficiente para caracterizar o complexo processo histórico analisado, ela não explica especificamente o caráter peculiar das cidades no cenário político-econômico dessas cidades, que alia uma modernização própria com uma fragilidade política. Quanto ao papel das burguesias nacionais, vale lembrar que elas estavam vinculadas aos interesses dos setores agrário-exportador no contexto em questão, lucrando com a exportação de café e outros produtos agrícolas produzidos pela região, por exemplo.

c) Incorreta. Conforme o texto base do exercício explicita, entre as décadas finais do século XIX e início do século XX, a sociedade urbana apresentou uma considerável "debilidade de qualquer expressão política" no Brasil e nos países oriundos da antiga América Espanhola. Ou seja, não houve "um deslocamento do controle do poder político do campo para a cidade". Enquanto que os países hispano-americanos conviviam com o predomínio político de seus caudilhos (vinculados aos interesses dos grandes proprietários rurais), o Brasil teve sua independência e seu período monárquico claramente ligado aos interesses econômicos da aristocracia fundiária, a exemplo da manutenção do modelo agrário-exportador e da escravidão após a Independência.

d) Correta. No contexto de virada do século XIX para o século XX, os países hispano-americanos e o Brasil foram incorporados na periferia da nova divisão internacional do trabalho, sendo responsável pelo oferecimento de gêneros primários aos principais centros do capitalismo internacional. Tal condição, aliada ao mencionado desenvolvimento urbano assistido no contexto em questão, resultou numa posição "peculiar" das cidades e numa redução de seu poder político nos Estados analisados, que acabaram submetidos ao predomínio dos interesses agrário-exportadores. Tal condição econômica passou a se alterar apenas nas décadas de 1930 e 1940, com a gradativa complexificação econômica e industrialização de vários países da região, a exemplo do Brasil e da Argentina.

e) Incorreta. Ao contrário do afirmado, os setores industrial e de serviços não apresentaram um acelerado crescimento na virada do século XIX para o século XX. Como o texto sugere, o predomínio econômico e fiscal ficou concentrado no setor agrário-exportador nesses países, a exemplo da pecuária argentina e da cafeicultura brasileira. Também é incorreto sugerir que o contexto foi marcado pela maior integração comercial no continente, tendo em vista que as exportações da regiões eram destinadas aos principais centros industrializados do Ocidente, como a Inglaterra e a França.