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Questão 59 Unesp 2022 - 1ª fase - dia 1

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Questão 59

Sentidos da Filosofia e papel do filósofo

    As certezas do homem comum, as verdades comuns da experiência cotidiana, os filósofos vivem-nas, por certo, e não as negam, enquanto homens. Mas, enquanto filósofos, não as assumem. Nesse sentido em que as desqualificam, pode-se dizer que as recusam. Desqualificação teórica, recusa filosófica, empreendidas em nome da racionalidade que postulam para a filosofia. Assim é que boa parte das filosofias opta por esquecer “metodologicamente” a visão comum do Mundo, recusando-se a integrá-la ao seu saber racional e teórico. Não podendo furtar-se, enquanto homens, à experiência do Mundo, não o reconhecem como filósofos. O Mundo não é, para eles, o universo reconhecido de seus discursos. Desconsiderando filosoficamente as verdades cotidianas, o bom senso, o senso comum, instauram de fato o dualismo do prático e do teórico, da vida e da razão filosófica. Instauram, consciente e propositadamente, o divórcio entre o homem comum que são e o filósofo que querem ser.

(Oswaldo Porchat Pereira. Rumo ao ceticismo, 2007. Adaptado.)

O “divórcio” entre o homem comum e o filósofo, segundo o autor, ocorre em função da



a)

negação do homem comum em entender a realidade.

b)

restrição do saber comum no fazer filosófico.

c)

diferença de mundos que buscam compreender.

d)

falta de correspondência factual do saber comum.

e)

proposição de respostas necessariamente divergentes.

Resolução

a) Incorreta. O autor não sugere uma negação do homem comum em entender a realidade. A separação entre o cotidiano do "homem comum" e a ação filosófica se pauta na necessidade de uma racionalidade própria à filosofia, apartada do saber comum presente no cotidiano mundano.

b) Correta. Segundo Oswaldo Porchat Pereira, os filósofos empreendem uma "recusa filosófica" da experiência cotidiana "em nome da racionalidade que postulam pela filosofia". Tal postura é necessária, pois as experiências prosaicas e os saberes cotidianos são de uma natureza diversa em comparação ao pensamento filosófico, tendo em vista que pressupõem metodologias contrastantes. Há, portanto, uma restrição dos saberes oriundos do mundo corriqueiro ao mundo filosófio, exigindo uma postura de separação entre o homem e o filosófos para o desenvolvimento de suas reflexões.

c) Incorreta. A necessidade de cisão teórica entre o homem e o filósofo não se pauta pela diferença de "mundos" que buscam compreender, mas pela contraposição entre a experiência prática e do teórica. Ou seja, para uma abordagem filosófica e racional característica da filosofia, exige-se a recusa e desprendimento do saberes e da experiência cotidiana.

d) Incorreta. Não é possível afirmar que o saber comum apresenta uma "falta de correspondência" factual. Pelo contrário, seus saberes estão pautados na experiência cotidiana e em seus fatos consumados, no entanto, são negados teoricamente no exercício do saber filosófico.

e) Incorreta. A separação entre o homem comum e o filósofo não decorre em função da proposição de respostas divergentes, mas sim de um próprio sistema de reflexão e teorização muito discrepantes entre a filosofia e o cotidiano. Portanto, ultrapassa somente a necessidade de proposição de respostas, pois trata-se de abordagens completamente diferente.