No conjunto de seus diferentes usos, a palavra “cultura” pode significar um valor individual do sujeito que “tem cultura”; um valor coletivo de povos, etnias e grupos sociais que produzem bens culturais que podem tornar-se propriedade de alguns; um valor de produto comercializado, como um livro, um quadro, uma peça teatral. O controle da circulação de bens começa com a invenção da imprensa no século XV, seguida da regulação dos direitos autorais e de reprodução. Hoje, a expansão da tecnologia digital, o compartilhamento nas redes e seu monopólio resultam em condições ainda mais complexas de produção, circulação e comercialização de bens culturais. Além disso, tradições milenares no Extremo Oriente e em alguns povos originários da América Latina mostram que o mundo não é só o que chamamos de Ocidente e que as noções de cópia, original, livre e coletivo diferem entre culturas diversas. Nesse contexto, pergunta o autor, como defender uma cultura livre?
(Adaptado de Leonardo Foleto, Introdução ao livro A cultura é livre: uma história da resistência antipropriedade. Disponível em https:// outraspalavras.net/alemdamercadoria/cultura-seus-tres-significados-e-sualibertacao/ . Acessado em 10/04/2021.)
Com base no que afirma o autor, a defesa de uma cultura livre dependeria
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da produção e circulação de bens culturais por grupos sociais.
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da atenção dada aos valores individuais e aos direitos autorais.
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da consideração de experiências e valores de outras culturas.
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do compartilhamento de bens culturais via tecnologia digital.
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a) Incorreta. O autor parte do pressuposto de que grupos sociais diversos já produzem e compartilham cultura, inclusive, de uma maneira bastante complexa devido aos avanços tecnológicos que experimentamos atualmente. Nesse sentido, o questionamento a respeito da defesa de uma cultura livre não passa por essa produção, mas pelo reconhecimento dos valores atribuídos a essas muitas culturas.
b) Incorreta. Os valores individuais e os direitos autorais são mencionados no texto no sentido de demonstrar o percurso histórico dos valores atribuídos à cultura ao longo do tempo. A defesa de uma cultura livre não passaria pelos valores individuais e pelos direitos autorais, hoje recursos já estabilizados e aceitos, de um modo geral.
c) Correta. O autor insere uma pergunta ao final do trecho apresentado para indicar uma provocação a respeito do que havia mencionado anteriormente: “tradições milenares no Extremo Oriente e em alguns povos originários da América Latina mostram que o mundo não é só o que chamamos de Ocidente e que as noções de cópia, original, livre e coletivo diferem entre culturas diversas”. Logo, se há culturas e valores muito diversos espalhados pelo mundo, como defender um conceito único que se aplique a todas as possibilidades? Nesse sentido, então, segundo o autor, para que pudéssemos de fato lidar com uma cultura livre, teríamos que considerar experiências e valores de outras culturas além da que prevalece no Ocidente.
d) Incorreta. A menção ao compartilhamento de bens culturais via tecnologia digital é feita no texto para a contextualização do cenário que temos atualmente e que resulta em um movimento complexo em relação à circulação da cultura. A ideia de uma cultura livre não questiona essa distribuição, mas os valores agregados a cada tipo de manifestação cultural.