Leia o poema de Fernando Pessoa.
Cruz na porta da tabacaria!
Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-’star que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.
Quem era? Ora, era quem eu via.
Todos os dias o via. Estou
Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.
Ele era o dono da tabacaria.
Um ponto de referência de quem sou.
Eu passava ali de noite e de dia.
Desde ontem a cidade mudou.
Meu coração tem pouca alegria,
E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria!
Desde ontem a cidade mudou.
Mas ao menos a ele alguém o via,
Ele era fixo, eu, o que vou,
Se morrer, não falto, e ninguém diria:
Desde ontem a cidade mudou.
(Obra poética, 1997.)
O eu lírico recorre a um sinal de pontuação para indicar a supressão de um verbo em
a) |
“Ao diabo o bem-’star que trazia.” (1ª estrofe) |
b) |
“Todos os dias o via. Estou” (2a estrofe) |
c) |
“Quem era? Ora, era quem eu via.” (2ª estrofe) |
d) |
“Se morrer, não falto, e ninguém diria:” (5ª estrofe) |
e) |
“Ele era fixo, eu, o que vou,” (5ª estrofe) |
A única assertiva que apresenta o recurso descrito no enunciado é a alternativa E. No trecho reproduzido, a vírgula após "eu" indica a supressão do verbo "ser". Caso o verbo não tivesse sido suprimido, teríamos: "Ele era fixo, eu sou o que vou". A supressão feita por meio do uso da vírgula configura-se como um recurso estilístico, ou seja, não é possível identificar a existência de uma abordagem mais adequada que outra em situações como a apresentada por esta questão.