Estudos mostram que a taxa de desmatamento nos principais biomas brasileiros tem aumentado significativamente desde 2015, causando a fragmentação da paisagem e tornando esses biomas altamente propensos a incêndios. Apesar dos processos químicos envolvidos na combustão da madeira ocorrerem de forma similar nos diferentes biomas, as diferenças na vegetação fazem com que as queimadas tenham características e consequências distintas em cada bioma.
a) A vegetação na Amazônia é caracterizada majoritariamente por florestas altas e densas, enquanto o Pantanal é coberto por vegetação predominantemente aberta. Supondo que todos os outros fatores sejam similares nos dois biomas, compare a velocidade de propagação das queimadas na Amazônia e no Pantanal. O tempo para queimar uma mesma área será maior em qual desses dois biomas? Justifique sua resposta.
b) Um dos parâmetros mais importantes para entender o comportamento do fogo é a intensidade da linha de frente do fogo, , que representa a quantidade de calor liberado por unidade de tempo por unidade de comprimento da frente do fogo. A intensidade pode ser modelada fisicamente como o produto do calor de combustão do combustível, , pela quantidade do combustível disponível, (medida em kg/m²), e pela velocidade de propagação do fogo, (medida em m/s):
No gráfico abaixo, os pontos representam a intensidade de diferentes queimadas registradas no Cerrado em função do produto . A reta representa a curva de tendência que melhor ajusta os dados. A partir destas informações, estime o calor de combustão do combustível disponível para queima no Cerrado brasileiro.
a) Há dois fatores importantes que devem ser considerados no espalhamento de um incêndio: a taxa com que o calor liberado na combustão é absorvido pelo ambiente e a taxa com que a insolação disponibiliza energia para a manutenção da combustão.
Florestas altas e densas possuem ambiente com maior umidade do que lugares de vegetação predominantemente aberta, uma vez que há maior taxa de evapotranspiração. Como a água é uma substância de alto calor específico, a umidade é capaz de absorver grande quantidade de calor do ambiente sem sofrer consideráveis variações de temperatura, e desta forma funciona como um reservatório de energia garantindo pequena amplitude térmica e temperaturas, em média, menores. Há estudos1 que indicam que florestas possuem temperaturas até 5ºC menores, em média, do que pastagens de vegetação aberta. No caso de incêndios, a umidade dificulta a propagação do fogo, retendo boa parte da energia liberada, além de dificultar a queima do combustível vegetal, mantendo a matéria orgânica úmida e, portanto, menos capaz de absorver a energia que é necessária para iniciar a combustão.
Além disso, em florestas densas ocorre menor insolação da superfície, devido à sombra garantida pelas copas. Este fator contribui para a menor disponibilidade de energia à matéria orgânica combustível, sendo um fator que dificulta a propagação de incêndios. Há estudos2 que indicam que áreas florestais já exploradas pela indústria madeireira e áreas florestais já atingidas por incêndios possuem maior susceptibilidade à proliferação do fogo devido a alterações na estrutura vegetal e maior entrada de iluminação solar.
Em vista do exposto acima, o tempo necessário para queimar uma mesma área é menor no Pantanal, de vegetação predominantemente aberta, onde há maior disponibilidade energética devido à menor umidade e maior disponibilidade de radiação solar.
b) Buscamos uma relação linear entre a intensidade do fogo e o produto da disponibilidade de combustível pela velocidade de propagação do fogo. Nesta relação linear, o calor de combustão do combustível é o coeficiente angular:
O coeficiente linear nesta relação é nulo; extrapolando o gráfico apresentado no espaço de respostas vemos que a linha intercepta a origem, como esperado. Observe a figura:
Desta forma, tomando o par de pontos destacados em vermelho na figura abaixo, o coeficiente angular é dado por
1 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE MEIO TERMO DA EFETIVIDADE DO FUNDO AMAZÔNIA: 2008 - 2018 (http://www.fundoamazonia.gov.br/export/sites/default/pt/.galleries/documentos/monitoramento-avaliacao/avaliacoes-externas/FA-Relatorio-Avaliacao-Meio-Termo-Fundo-Amazonia.pdf - Acessado em 09/02/21 às 20h00)
2 Análises de susceptibilidade e impacto de incêndios florestais em uma floresta alagável (igapó) na Amazônia central por meio de lidar terrestre portátil (http://www.dsr.inpe.br/sbsr2015/files/p0240.pdf - Acessado em 09/02/21 às 20h00)