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Questão 2 Unicamp 2021 - 2ª fase - dia 2

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Questão 2

Regiões Metropolitanas e Regiões Integradas de Desenvolvimento Problemas sociais urbanos

O maior problema do Brasil não é a pobreza, mas a desigualdade e a injustiça a ela associada. Daí decorre a importância da segregação na análise do espaço urbano de nossas metrópoles, pois ela é a mais importante manifestação urbana da desigualdade que impera em nossa sociedade. Assim, nenhum aspecto do espaço urbano brasileiro poderá ser jamais explicado ou compreendido se não forem consideradas as especificidades da segregação social e econômica que caracteriza nossas metrópoles, cidades grandes e médias.

(Adaptado de Flávio Villaça, “São Paulo: segregação urbana e desigualdade”. Revista Estudos Avançados, V. 25, n. 71, São Paulo, jan./abr. 2011.)

Com base no texto e em seus conhecimentos,

a) explique o que é segregação urbana e como o transporte urbano nas grandes cidades pode ser segregador;

b) diferencie os conceitos de centro e periferia, no espaço urbano, tendo em vista a segregação.



Resolução

a) Segregação urbana é um tipo de segregação espacial que ocorre quando grupos sociais são excluídos ou limitados de participar de determinadas áreas urbanas e geralmente se desenvolve do centro para a periferia juntamente com o processo de formação das cidades, uma vez que as classes mais abastadas tendem a se instalar nas regiões centrais das cidades e em seu entorno, sendo estas as regiões geralmente mais bem equipadas com infraestrutura viária, saneamento básico, praças, sistemas de iluminação, opções culturais e áreas de lazer. O custo de vida nestas regiões é elevado, o que inviabiliza ou reduz o acesso das classes menos abastadas para fixar residência, criando o efeito da segregação. Na medida em que as cidades se expandem, a partir de seus centros principais, novos centros são criados (gentrificação), com a criação ou renovação do equipamento urbano, valorização do terreno e, consequentemente, exclusão das classes com maior vulnerabilidade, que se deslocam para as periferias, as quais muitas vezes são ocupadas de forma desordenada, com construções irregulares, possuindo baixa qualidade de infraestrutura viária, de saneamento básico e de opções de lazer.

Os meios de transporte em grandes cidades podem ser divididos entre individuais e coletivos, sendo que as classes de renda mais elevada se utilizam predominantemente dos meios de transportes individuais enquanto as classes de baixa renda, residentes nas periferias das cidades, fazem uso predominantemente de meios transportes coletivos. O tempo de deslocamento nos transportes individuais em países como o Brasil é menor do que nos transportes coletivos para cobrir as mesmas distâncias, além disso as longas distâncias entre as periferias e os centros das cidades dificultam o acesso às áreas centrais, favorecendo a segregação. Há ainda grandes obras viárias realizadas visando o transporte individual, privilegiando as classes de alta renda e acentuando a discrepância entre os tempos de deslocamento das diferentes classes sociais e precarizando a qualidade de vida dos moradores de áreas periféricas. É comum ainda a negligência do poder público em solucionar problemas de locomoção nas áreas periféricas e entre estas e os centros urbanos, causando superlotação dos transportes coletivos, diminuição da qualidade de vida e dificuldade de acesso a equipamentos urbanos comuns aos centros, como bibliotecas, parques, praças, centros de compras e outros.

b) Centro e Periferia são conceitos que ajudam a definir as partes das áreas urbanizadas e resultam das distinções dos equipamentos urbanos por suas funções e usos (moradia, comércio, transporte, lazer etc.). Nas áreas centrais, há uma concentração de usos e funções relacionados ao comércio e aos serviços e estas sofreram intensas transformações ao longo do século XX. O fenômeno da gentrificação - alteração das dinâmicas da composição local, pelo surgimento de novos pontos comerciais, novos edifícios e equipamentos urbanos - explica a ocorrência do processo de valorização de certas áreas, expandindo a população com renda mais elevada e promovendo a diminuição/expulsão de pessoas de menor renda que moravam na região, mas tiveram que se mudar devido à elevação dos preços. Com isso, as periferias cresceram ao redor dos grandes centros, em geral com bairros residenciais, apresentando enormes disparidades, principalmente em países em desenvolvimento, em que há maior concentração de ocupações irregulares, como as favelas. Na periferia há ainda o fenômeno do crescimento de núcleos urbanos de renda elevada através dos condomínios fechados, que impedem o acesso público e se segregam de forma opcional do restante da cidade.