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Questão 3 Unicamp 2021 - 2ª fase - dia 2

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Questão 3

Desmatamento Domínios Morfoclimáticos Degradação e conservação do solo

Dados da Nasa (EUA) e do Sistema Copernicus (União Europeia) revelam que os incêndios de 2020 em Nova Gales do Sul (Austrália), no Ártico Siberiano, na costa oeste dos Estados Unidos e no Pantanal brasileiro foram os maiores dos últimos tempos.

(Adaptado de “Incêndios florestais pelo mundo são os ‘maiores em escala e em emissões de CO2’ em 18 anos”. BBC News Brasil 2020. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/geral-54202546. Acessado em 20/10/2020.)

Em todas essas áreas, à medida que o fogo avança sobre as formas de relevo, ocorrem três processos fundamentais que controlam a transferência de calor: a condução, a radiação e a convecção. A ilustração abaixo mostra dois cenários da propagação de incêndios na paisagem.

(Adaptado de E. A. Keller; R. H. Blodgett, Riesgos naturales: procesos de la Tierra como riesgos, desastres y catástrofes. Madrid: Pearson Prentice Hall, 2007, p. 320.)

A partir do exposto e de seus conhecimentos sobre incêndios em áreas naturais, responda às questões.

a) Qual dos dois cenários é o mais condizente com as queimadas ocorridas no Pantanal mato-grossense em 2020? Aponte uma característica climática que favoreceu a propagação do fogo.

b) Indique dois efeitos negativos da ocorrência de incêndios de grandes proporções em 2020 que tenham sido similares nas diferentes áreas indicadas no texto.



Resolução

a) A questão apresenta duas dinâmicas de incêndios de grandes proporções em matas ou vegetações de tipos variados. As primeiras coisas que temos que considerar são os elementos da base física para a ocorrência e amplitude de um incêndio. Devemos observar fatores como a base combustível (madeira, folhagem, matéria orgânica), ou a presença de gases alimentadores de chamas, oxigênio por exemplo. A forma topográfica que irá influenciar no comportamento dos ventos também é um fator a ser considerado. Todos eles são fatores fundamentais para entender o comportamento e amplitude das queimadas/incêndios. A questão nos demonstra exatamente a preocupação acerca destes fatores quando propõe duas áreas diferenciadas em tais fatores básicos. Quando observamos a figura A, notamos uma região plana (relevo similar ao do Pantanal) que, por ter este relevo, tem a possibilidade de maior retenção e acúmulo de matéria orgânica em decomposição acima do solo, a serapilheira. Esse material poderia, junto com as raízes das vegetações, servir com combustível base para expansão das queimadas, sem a presença de chamas, já que sob a superfície da matéria orgânica, ou ainda internamente ao solo, existe menos oxigênio. Porém, mesmo assim as queimadas podem se expandir nesta forma de calor/radiação. Tal incêndio interno é conhecido como ‘fogo de solo/subsolo’ e, analisando as imagens, vemos que, em geral, tal incêndio teria maior dificuldade de se estabelecer em regiões mais íngremes (como na figura B do enunciado), pois nesses locais os sedimentos, bem como a matéria orgânica, seriam carregados para áreas mais baixas, não havendo matéria orgânica suficiente para permitir o alastramento interno das chamas. É por isso que a imagem diferencia a radiação interna e convecção de calor sob o solo.

Uma das principais dificuldades de combater os incêndios do Pantanal em 2020, esteve exatamente no fato de que as chamas internas, por vezes emergia, em focos de incêndios externos, mas que por serem expansíveis internamente, não eram facilmente localizados e combatidos. Isso aproxima o que ocorreu no Pantanal com a imagem A.

Outro ponto de análise é a observação da dinâmica externa das chamas, vemos que na figura A ocorre um processo convectivo para baixo e para cima da vegetação, dando velocidade à expansão das chamas sobre novos espaços. Tal convecção para frente e para baixo resulta de baixas pressões atmosféricas localizadas, geradas pelo calor trazido pela radiação externa das chamas. Isto atrai os ventos que impulsionam as chamas a se alastrarem à frente. Tal característica de expansão é hoje classificada como “Incêndio de nova ou sexta geração”, e consiste nas convecções para o alto e para frente, gerando a expansão veloz das áreas incendiadas, fator que esteve presente nos incêndios pantaneiros. A imagem B mostra a formação de convecção para o alto e não para frente, o que permite um alastramento mais lento das chamas sobre a vegetação. É importante ainda ressaltar que os incêndios, em geral, se alastram muito em períodos de seca ou estiagem prolongada, que no caso do Pantanal ocorrem entre os meses de outono e inverno.

b) Muitos incêndios se espalharam por diferentes territórios do Mundo, como os citados no enunciado, incêndio nos EUA, Austrália ou Sibéria. Em todos os casos temos consequências sérias nas áreas queimadas e em seus arredores, que se tornam ainda mais dramáticas quando os incêndios são antrópicos. Tais incêndios, em áreas povoadas, levam ao deslocamento forçado das populações e fechamento de infraestruturas de transportes, como aeroportos, estradas, ferrovias e outros; por vezes levando ao isolamento das áreas afetadas. Em termos ambientais temos como grave consequência dos incêndios, a perda de biodiversidade vegetal e animal, a alteração do microclima local, a ampliação da chuva ácida, a perda de fertilidade do solo e outros problemas ambientais.