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Questão 38 Unesp 2021 - 1ª fase - dia 2

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Questão 38

Constituições do Primeiro Reinado

No que dizia respeito ao Estado a ser construído, genericamente o modelo disponível era aquele que prevalecia no mundo ocidental. Tratava-se de organizar um aparato político-administrativo com jurisdição sobre um território definido, que exercia as competências de ditar as  normas que deveriam regrar todos os aspectos da vida na sociedade, cobrar compulsoriamente tributos para financiá-lo e às suas políticas, exercer o poder punitivo para aqueles que não respeitassem as normas por ele ditadas.

(Miriam Dolhnikoff. História do Brasil império, 2019.)


O texto refere-se à organização política do Brasil após a independência, em 1822. O novo Estado brasileiro foi baseado em padrões



a)

federalistas e garantia completa autonomia às províncias.

b)

liberais e contava com sistema político representativo.

c)

absolutistas e fundava-se no exercício dos três poderes pelo imperador.

d)

elitistas e era controlado apenas pelos portugueses residentes no país.

e)

democráticos e permitia a ampla participação da população brasileira. 

Resolução

O novo Estado brasileiro teve como base fundamental a Constituição de  1824, primeira constituição do Brasil e vigente até o ano de 1889. Para melhor compreensão da questão, vale retomar as pricipais características dessa constituição, elaborada pelo Conselho de Estado e outorgada pelo imperador: 
- Estabelecia uma Monarquia hereditária, constitucional e representativa (sendo o imperador e a Assembleia Geral eram os representantes da "nação brasileira");
- Separação em províncias – governadas por um presidente da província indicado pelo governo central;
- Voto censitário e aberto;
- Sistema eleitoral em dois graus: Eleitores de paróquia: renda de 100 mil réis;
Eleitores de província: renda de 200 mil réis;
Deputado: renda de 400 mil réis;
Senador: renda de 800 mil réis;
Nesse sistema, os eleitores de paróquia elegiam os de província, que votavam nos deputados da Assembleia Geral.
Os Senadores eram vitalícios e escolhidos por Imperador a partir de lista tríplice encaminhada pela província;
- Criação do poder Moderador, exercido exclusivamente pelo Imperador e com poder de intervenção nos demais poderes;
- União entre Igreja e Estado – práticas do beneplácito e do padroado.


Com base nessas características, vejamos as alternativas:
a) Incorreta. A constituição de 1824 assegurava um Estado Unitário e não deixava espaço para os poderes locais, sendo estabelecida uma vigorosa centralização política e administrativa. De acordo com seu artigo 165, "Haverá em cada província um presidente, nomeado pelo Imperador, que o poderá remover, quando entender que assim convém ao bom serviço do Estado". Esse rigor centralizador foi abrandado temporariamente a partir do Ato Adicional de 1834, mas em poucos anos suspenso novamente com a Lei de Interpretação do Ato Adicional em 1840.  
b) Correta. Conforme mencionado acima, a Constituição de 1824 considerava o Brasil como uma Monarquia hereditária, constitucional e representativa, sendo o imperador e a Assembleia Geral os representantes da "nação brasileira". Nesse sentido, ainda que essa Constituição traga traços centralizadores, o constitucionalismo do Império definiu uma organização do poder que seguia os princípios fundamentais do liberalismo. A Constituição ocultava a escravidão e estabelecia os direitos políticos para o restante da população do país, sendo que o primeiro artigo da Constituição de 1824 define o Império do Brasil como associação política de  todos  os  cidadãos brasileiros. Os  cidadãos  brasileiros  formam, então, uma  “Nação  livre,  e  independente,  que não  admite  com  qualquer  outra laço algum de união ou federação, que se oponha à sua Independência.” A Constituição de 1824 foi  liberal no  reconhecimento  de  direitos, ainda que com viés autoritário se pontuarmos a concentração do poder nas mãos do imperador. 
c) Incorreta. Embora a Constituição brasileira de 1824 seja centralizadora, não podemos afirmar que se tratava de um estado baseado em padrões absolutistas, tendo em vista a própria existência de uma constituição e suas características que permitiam o sistema político representativo. 
d) Incorreta. O Estado brasileiro forjado a partir de 1822 não privilegiava a participação política dos portugueses residentes no país, sendo que estes não possuíam nenhum direito exclusivo ou privilégios de acordo com a carta constitucional. 
e) Incorreta. Não podemos afirmar que o Estado brasileiro teve como bases padrões democráticos, tendo em vista a manutenção da escravidão após a independência, excluindo assim parcela significativa da população da participação política. Além disso, mesmo os livres estavam submetidos ao critério censitário para votantes e elegíveis.