A classificação das raças em “superiores” e “inferiores”, recorrente desde o século XVII, ganha uma falsa legitimidade baseada no mito iluminista do saber científico, coincidindo com a necessária justificativa de que a dominação e a exploração da África, mais do que “naturais” e inevitáveis, eram “necessárias” para desenvolver os “selvagens” africanos, de acordo com as normas e os valores da civilização ocidental.
(Leila Leite Hernandez. A África na sala de aula: visita à história contemporânea, 2005.)
As teorias raciais utilizadas durante o processo de colonização da África no século XIX eram
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desdobramentos do pensamento ilustrado, que valorizava a liberdade e a igualdade social e de natureza. |
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manifestações ideológicas que buscavam justificar a exploração e o domínio europeus sobre o continente africano. |
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baseadas no pensamento lamarckista, que explicava a transmissão genética de características fisiológicas e intelectuais adquiridas. |
d) |
validadas pela defesa darwinista do direito dos superiores se imporem aos demais seres vivos. |
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sustentadas pelo pensamento antropológico, que tratava as diferenças culturais dos diversos povos como positivas e necessárias. |
a) Incorreta. Não é correto afirmar que o pensamento ilustrado do século XVIII valorizou a igualdade social. Embora tal tema tenha sido discutido em escritos do período, o movimento iluminista ficou marcado pela defesa da igualdade jurídica e de direitos, porém reconhecendo a existência de diferenças sociais entre os homens. Vale lembrar que essa corrente filosófica defendia claramente o direito de propriedade privada, inclusive associando a responsabilidade política dos indivíduos a suas propriedades, num raciocínio que validou a implementação do voto censitário na França, por exemplo. Por fim, ainda que as teorias raciais do século XIX tenham conquistado uma falsa legitimidade através do cientificismo oriundo do pensamento iluminista, há uma divergência dessas ideologias quanto aos princípios de liberdade e de equidade natural entre os homens, exemplos mobilizados na presente alternativa.
b) Correta. O processo imperialista do século XIX na África buscava atender fundamentalmente os interesses econômicos das potências europeias, interessadas na conquistas de fontes de matéria-prima e de mercados consumidores para suas economias. Contudo, no campo ideológico, tal avanço neocolonial foi justificado através de teorias raciais e sociológicas pretensamente científicas, que hierarquizavam as raças humanas e suas culturas de forma a reconhecer a superioridade do branco europeu. A partir dessa constatação, seria um dever do europeu garantir o progresso e a modernização dos povos considerados inferiores, legitimando o domínio e a exploração econômica de vastas regiões, como a África e a Ásia.
c) Incorreta. As teorias raciais vinculadas ao imperialismo do século XIX não foram baseadas em teorias lamarckistas, mas sim em interpretações pretensamente científicas dos escritos de Darwin. Segundo tais interpretações, as raças humanas também apresentariam diferentes graus evolutivos em termos biológicos e naturais, o que justificaria o avanço e a superioridade dos europeus naquele contexto.
d) Incorreta. A teoria darwinista sobre a seleção natural não advoga um direito dos seres superiores se imporem aos demais seres vivos. Segundo a tese darwinista, os organismos mais adaptados ao ambiente apresentam probabilidades mais elevadas de sobrevivência e em deixarem um maior número de descendentes, com grandes chances de propagar continuidade de sua espécie dentro da seleção natural. Ou seja, não havia uma noção de direito de imposição dos superiores aos demais organismos, mas sim um processo natural de seleção das espécies mais adaptadas ao ambiente.
e) Incorreta. Embora alguns trabalhos antropológicos do período justificassem ideologicamente o Neocolonialismo - como nos escritos de Herbert Spencer, por exemplo -, o reconhecimento das diferenças culturais não eram consideradas como "positivas e necessárias" para a humanidade. Pelo contrário, as teses do período buscavam ressaltar a superioridade da sociedade industrial europeia, compreendida como civilizada e moderna em detrimento de outras formas consideradas primitivas de organização política e social. Dentro dessa lógica, era praticamente um dever do branco europeu trabalhar para difundir seu modelo de vida avançado e civilizado para o restante da humanidade, num pensamento vinculado a ideia de um "Fardo do Homem Branco".