O reconhecimento do território africano empreendido pelas campanhas de exploração e pelas missões religiosas foi facilitador de uma verdadeira invasão de mercadores europeus nas caravanas e rotas de comércio que ligavam diferentes pontos do continente. Muitos desses mercadores começaram a controlar algumas redes de comércio, criando novos sistemas de autoridade que não passavam mais por líderes africanos. De início, isso não representou nenhum tipo de perigo para as elites africanas, que já estavam acostumadas a negociar com árabes, indianos e com os próprios europeus. No entanto, no decorrer do século, os europeus se tornaram senhores das principais rotas comerciais do litoral africano, inclusive as que ligavam as cidades orientais com o continente asiático.
(Ynaê Lopes dos Santos.História da África e do Brasil afrodescendente, 2017.)
Ao avaliar a presença europeia no continente africano ao longo do século XIX, o texto caracteriza
a) |
um movimento de intensificação do comércio internacional, realizado a partir da difusão de valores universais como o cristianismo e a democracia. |
b) |
o respeito europeu à multiplicidade de crenças e manifestações culturais e a insistência africana em manter formas arcaicas de organização política. |
c) |
um esforço consciente e planejado de integração entre os continentes, por meio da constituição de ligações terrestres e marítimas. |
d) |
um processo de interferência gradual e profunda nos padrões culturais africanos, de organização social e dinâmica política das sociedades locais. |
e) |
a disposição europeia de colaborar para o progresso de países subdesenvolvidos, ampliando a capacidade produtiva das economias locais. |
a) Incorreta. É incorreto classificar os valores de "democracia" e "cristianismo" como universais. Enquanto que "cristianismo" envolve os valores de uma específica religião entre várias existentes, "democracia" é um conceito político que apresenta variações interpretativas e práticas entre diferentes sociedades e civilizações. Ademais, no contexto do Imperialismo, as potências europeias evocavam o argumento da civilidade e do progresso para justificar o avanço neocolonial no continente africano, e não mobilizam particularmente a ideia de democracia para tal contexto.
b) Incorreta. Não é possível afirmar que existia um respeito europeu às tradições culturais africanas. O processo neocolonial foi baseado numa visão deliberadamente racista, eurocêntrica e hierarquizada acerca das culturas humanas, que compreendia a Europa como o centro de civilidade e progresso, enquanto que a África apresentava práticas socioculturais atrasadas e rudimentares. Ademais, a frase "formas arcaicas de organização política" comete tanto uma generalização quanto um juízo de valor sobre as estruturas políticas africanas, ignorando a multiplicidade das experiências naquele continente e hierarquizando os modelos de Estado segundo padrões eurocêntricos e ocidentais.
c) Incorreta. O projeto neocolonial não tinha como objetivo a formação consciente e planejada de uma integração entre os continentes. Em vez de interessados num projeto voluntário de integração, o principal intuito neocolonial envolvia o desenvolvimento das economias europeias através da busca de matérias-primas e mercados consumidores.
d) Correta. Conforme o texto base destaca, o neocolonialismo apresentou uma gradativa interferência europeia nas estruturas internas da sociedade africana. As expedições de exploração e as missões religiosas colaboraram para desnudar as estruturas comerciais internas do continente, que gradativamente passaram a contar com a participação de mercadores e das empresas europeias. Ainda que num primeiro momento isso não tivesse afetado as autoridades africanas, já acostumadas a participação de outras sociedades nas rotas comerciais, gradativamente os europeus tornaram os "senhores" dessas rotas comerciais, abalando as estruturas políticas e sociais tradicionais do continente africano.
e) Incorreta. Embora defendessem um caráter civilizatório no avanço imperialista do século XIX, as nações europeias não apresentavam uma efetiva colaboração no desenvolvimento dos continentes colonizados, sobretudo no campo econômico. O principal interesse europeu na África envolvia a conquista de matérias-primas e possíveis mercados para a economia europeia, sendo que estavam completamente desinteressados no efetivo desenvolvimento regional. Por fim, o termo "países subdesenvolvidos" é inadequado para versar sobre o imperialismo no século XIX, já que a África era vista como um território colonial, e não efetivamente interpretado como um continente repleto de "países" consolidados em condição de subdesenvolvimento.