É possível afirmar que muitas expressões idiomáticas transmitidas pela cultura regional possuem autores anônimos, no entanto, algumas delas surgiram em consequência de contextos históricos bem curiosos. "Aquele é um cabra da peste" é um bom exemplo dessas construções.
Para compreender essa expressão tão repetida no Nordeste brasileiro, faz-se necessário voltar o olhar para o século 16. "Cabra" remete à forma com que os navegadores portugueses chamavam os indios. Já "peste" estaria ligada à questão da superação e resistência, ou mesmo uma associação com o diabo. Assim, com o passar dos anos, passou-se a utilizar tal expressão para denominar qualquer indivíduo que se mostre corajoso, ou mesmo insolente, já que a expressão pode ter caráter positivo ou negativo. Aliás, quem já não ficou de "nhe-nhe-nhém" por aí? O termo, que normalmente tem significado de conversa interminável, monótona ou resmungo, tem origem no tupi-guarani e "nhém" significa "falar".
Disponível em: http://eiturasdahistoria.uol.com.br. Acesso em: 13 dez 2017.
A leitura do texto permite ao leitor entrar em contato com
a) |
registros do inventário do português brasileiro. |
b) |
justificativas da variedade linguística do país. |
c) |
influências da fala do nordestino no uso da lingua. |
d) |
explorações do falar de um grupo social especifico. |
e) |
representações da mudança linguística do português |
a) Correta. As expressões idiomáticas “cabra da peste” e “nhe-nhe-nhém” são patrimônios da cultura brasileira, e o texto permite que o leitor entre em contato com as histórias de formação de tais expressões. Desse modo, essa alternativa é correta, pois o inventário do português brasileiro é um documento que registra expressões pertencentes ao idioma, as quais simbolizam a cultura do povo brasileiro.
b) Incorreta. Apesar de o texto mostrar que as expressões idiomáticas “cabra da peste” e “nhe-nhe-nhém” são originadas de contextos históricos bastante particulares, o foco do texto não é justificar as variedades linguísticas do país, mas sim fazer com que o leitor entre em contato com expressões próprias do povo brasileiro e mostrar a ele a origem de tais expressões.
c) Incorreta. O texto não traz influências da fala do nordestino em relação ao uso da língua. Há uma passagem do texto em que é mostrada a origem de uma expressão idiomática bastante utilizada pelo nordestino, mas não há menções sobre a influência que a fala do nordestino exerce na língua portuguesa.
d) Incorreta. Apesar de a expressão “cabra da peste” ser comumente falada pelos nordestinos, não é possível afirmar que tal expressão pertence a um grupo social específico, pois há, no nordeste, diferentes grupos que utilizam essa mesma expressão. Além disso, a expressão “nhe-nhe-nhém” não é atrelada, no texto, a um grupo social determinado.
e) Incorreta. A expressão “cabra da peste” é originada do português europeu e, levando isso em consideração, pode-se afirmar que o texto apresenta uma mudança linguística do português, visto que duas palavras do português europeu foram ressignificadas para formarem, juntas, uma expressão idiomática do português brasileiro. Entretanto, o mesmo não se pode dizer da expressão “nhe-nhe-nhém”, pois ela tem origem no tupi-guarani. Dessa forma, esta alternativa torna-se inválida, visto que o segundo caso não representa uma mudança linguística do português.