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Questão 11 Enem 2020 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 11

textos literários Tipos de Argumento

Fomos falar com o tal encarregado, depois com um engenheiro, depois com um supervisor que mandou chamar um engenheiro da nossa companhia. Esses homens são da sua companhia, engenheiro, ele falou, estão pedindo a conta. A companhia está empenhada nessa ponte, gente, falou o engenheiro, vocês não podem sair assim sem mais nem menos. Tinha uma serra circular cortando uns caibros ali perto, então só dava pra falar quando a serra parava, e aquilo foi dando nos nervos.
Falei que a gente tinha o direito de sair quando a gente quisesse, e pronto. Nisso encostou um sujeito de paletó mas sem gravata, o engenheiro continuou falando e a serra cortando. Quando ele parou de falar, 50 Volts aproveitou uma parada da serra e falou que a gente não era bicho pra trabalhar daquele jeito; daí o supervisor falou que, se era falta de mulher, eles davam um jeito. O engenheiro falou que tinha mais de vinte companhias trabalhando na ponte, a maioria com prejuízo, porque era mais uma questão de honra, a gente tinha de acabar a ponte, a nossa companhia nunca ia esquecer nosso trabalho ali naquela ponte, um orgulho nacional.

PELLEGRINI, D. A maior ponte do mundo. In: 
Melhores contos. São Paulo: Global, 2005.

As reivindicações dos operários, quanto às condições aviltantes de trabalho a que são submetidos, recebem algumas tentativas de neutralização dos representantes do empregador, das quais a mais forte é o(a)



a)

sequência de atribuição de responsabilidades e de poder decisório a terceiros.

b)

solicitação em nome dos prejuízos e compromissos para entrega da obra.

c)

intimidação pela discreta presença de um agente de segurança na cena.

d)

promessa de imediato atendimento da carência sexual dos operários.

e)

apelo pela identificação com a empresa extensiva ao amor patriótico.

Resolução

a) Incorreta. De fato, inicialmente, há uma transferência na atribuição de responsabilidades, de modo que os operários são levados a falar “com o tal encarregado, depois com um engenheiro, depois com um supervisor que mandou chamar um engenheiro da nossa companhia”. Entretanto, esse movimento de imputar a responsabilidade a terceiros não é o recurso principal usado para tentar dissuadir os operários de suas reivindicações.

b) Incorreta. O engenheiro inicia sua argumentação contra as reclamações dos operários afirmando que “a companhia está empenhada nessa ponte”. Porém, essa justificativa não é suficiente, sendo rebatida pelo narrador-personagem (“a gente tinha o direito de sair quando a gente quisesse”). Na sequência, o engenheiro prossegue apelando para a questão econômica e reafirmando o compromisso com a entrega da obra (“tinha mais de vinte companhias trabalhando na ponte, a maioria com prejuízo, porque era mais uma questão de honra”). Mas, considerando-se o discurso desse personagem como um todo, trata-se de uma progressão argumentativa que culmina com a exaltação do trabalho dos operários e sua importância para a empresa e para o país.

c) Incorreta. A alternativa provavelmente refere-se ao “sujeito de paletó mas sem gravata”; sua presença pode ser lida como uma discreta intimidação, e por isso não é correto afirmar que seja a mais forte tentativa para neutralizar as reivindicações dos operários.

d) Incorreta. A ideia de carência sexual é sugerida pelo supervisor, ao afirmar que “se era falta de mulher, eles davam um jeito”. No entanto, essa oferta não atende ao que é reivindicado pelos operários, que desejam abandonar a obra, e não surte qualquer efeito.

e) Correta. No excerto, a fala do engenheiro é o recurso central usados pelos representantes do empregador para tentar convencer os operários a prosseguirem a obra. Em seu discurso, ele articula argumentos que procuram justificar a continuidade da construção da ponte, mesmo com as más condições de trabalho. Esse processo argumentativo segue uma progressão cujo ápice é a identificação dos trabalhadores com a empresa, reforçada pelo uso do possessivo em primeira pessoa do plural (“nossa companhia nunca ia esquecer nosso trabalho ali naquela ponte”), e o apelo ao amor patriótico (a ponte seria “um orgulho nacional”).