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Questão 21 Enem 2020 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 21

intertexto

TEXTO I

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
É peroba-do-campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o matita-pereira

TOM JOBIM. Águas de março. O Tom de Jobim e o tal de João Bosco (disco de bolso).
Salvador. Zen Produtora, 1972 (fragmento).

TEXTO II

A inspiração súbita e certeira do compositor serve ainda de exemplo do lema antigo: nada vem do nada. Para ninguém, nem mesmo para Tom Jobim. Duas fontes são razoavelmente conhecidas. A primeira é o poema O caçador de esmeraldas, do mestre parnasiano Olavo Bilac: "Foi em março, ao findar da chuva, quase à entrada/ do outono, quando a terra em sede requeimada/ bebera longamente as águas da estação [...]". E a outra é um ponto de macumba, gravado com sucesso por J. B. Carvalho, do Conjunto Tupi: "E pau, é pedra, é seixo miúdo, roda a baiana por cima de tudo". Combinar Olavo Bilac e macumba já seria bom; mas o que se vê em Águas de março vai muito além: tudo se transforma numa outra coisa e numa outra música, que recompõem o mundo para nós.

NESTROVSKI, A. O samba mais bonito do mundo. In: Três canções de Tom Jobim.
São Paulo: Cosac Naify, 2004.

Ao situar a composição no panorama cultural brasileiro, o Texto Il destaca o(a)



a)

diálogo que a letra da canção estabelece com diferentes tradições da cultura nacional.

b)

singularidade com que o compositor converte referências eruditas em populares.

c)

caráter inovador com que o compositor concebe o processo de criação artística.

d)

relativização que a letra da canção promove na concepção tradicional de originalidade.

e)

resgate que a letra da canção promove de obras pouco conhecidas pelo público no país.

Resolução

a) Correta. De acordo com o Texto II, há na letra da canção Águas de março um diálogo intertextual com ao menos dois textos: um poema do parnasiano Olavo Bilac e “um ponto de macumba, gravado com sucesso por J. B. Carvalho”. Dessa forma, a composição de Tom Jobim mistura elementos de diferentes tradições da cultura nacional: a referência erudita e acadêmica a Bilac e a incorporação de um canto religioso pertencente a uma religião afro-brasileira.

b) Incorreta. O Texto II destaca o modo como são misturadas, em Águas de março, referências eruditas (poema de Olavo Bilac) e populares (ponto de macumba), e não como as eruditas são convertidas em populares.

c) Incorreta. Segundo o Texto II, “A inspiração súbita e certeira do compositor serve ainda de exemplo do lema antigo: nada vem do nada.”. Assim, o processo de criação artística pautado na intertextualidade não pode ser considerado inovador, pois é um expediente já amplamente usado por outros artistas.

d) Incorreta. Conforme apontado na letra anterior, o recurso usado na composição da letra da canção, ao apropriar-se de elementos de outras obras, não relativiza uma concepção tradicional de originalidade, mas segue um “lema antigo”.

e) Incorreta. Embora as obras referidas possam ser desconhecidas por parte do público brasileiro, não há no Texto II menção à ideia de resgatá-las, mas ao reaproveitamento de fontes culturais tão diversas.