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Questão 40 Enem 2020 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 40

Literatura Contemporânea Lírico (Gêneros Poéticos)

Retrato de homem 

A paisagem estrita 

ao apuro do muro 

feito vértebra a vértebra

e escuro. 

A geração dos pelos 

sobre a casca e os rostos 

em seus diques de sombra 

repostos. 

Os poços com seu lodo 

de ira e de tensão: 

entre cimento e fronte 

- um vão. 

As setas se atiram 

às margens de ninguém, 

ilesas a si mesmas 

retêm. 

Compassos de evasão 

entre falange e rua 

sondando a solitude nua. 

E na armadura de coisa 

salobra, um só segredo: 

a polpa toda é fruição

de medo. 

ARAÚJO, L. C. Cantochão Belo Horizonte: Imprensa Publicações - Governo do Estado

de Minas Gerais, 1967.

No poema, a descrição lírica do objeto representado é orientada por um olhar que

 



a)

desvela sentimentos de vazio e angústia sob a aparente austeridade. 

 

 

b)

expressa desilusão ante a possibilidade de superação do sofrimento.

 

 

c)

contrapõe a fragilidade emocional ao uso desmedido da força física. 

 

 

d)

O associa a incomunicabilidade emocional às determinações culturais. 

 

 

e)

privilegia imagens relacionadas à exposição do dinamismo urbano.

 

Resolução

a) Correta. O sentido de “austeridade” está associado a severidade, rigidez, inflexibilidade, despojamento e circunspecção. No poema, o eu-lírico se esforça por fixar uma imagem de austeridade, atribuindo a si mesmo elementos que remetem a dureza e rigidez, tais como “apuro do muro”, “casca”, “cimento”, “setas” e “armadura”. Entretanto, ao longo da leitura, é possível perceber que essa aparência oculta fraquezas que apontam para os sentimentos de vazio e angústia. Isso pode ser verificado a partir da menção a “diques de sombra”, “lodo de ira e tensão”, “compassos de evasão”, “solitude nua”. Além disso, ao final, ele confessa que “por baixo da armadura de coisa salobra”, há um segrego: a “polpa toda”, ou seja, o seu interior, é “fruição de medo”. Tendo isso em vista, o eu-lírico aponta para um conflito em que a imagem de invencibilidade projetada exteriormente oculta suas fraquezas existenciais.

b) Incorreta. A possibilidade de superação do sofrimento não é vislumbrada pelo eu-lírico, uma vez que parece fracassar em sua tentativa de ocultar a “fruição de medo” que há por baixo de sua armadura. Em nenhum momento ele vislumbra a possibilidade de vencer essas angústias.

c) Incorreta. Não há uso desmedido da força física, visto que o eu lírico afirma que as setas que ele atira são lançadas “às margens de ninguém”, de modo que “ilesas a si mesmas retêm”, ou seja, seus supostos impulsos violentos não chegam a se concretizar.

d) Incorreta. O eu-lírico não faz referência a determinações culturais para explicar sua incomunicabilidade emocional. No poema, as causas desse problema estão ligadas a aspectos psicológicos e existenciais.

e) Incorreta. Os elementos que poderiam justificar essa alternativa – muro, cimento, rua – são mobilizados como metáforas para a condição existencial paralisada e rígida do eu-lírico, sendo muito frágil sua associação a imagens relacionadas ao dinamismo urbano.