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Questão 49 Enem 2020 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Questão 49

Sociedade colonial Escravidão

Porque todos confessamos não se poder viver sem alguns escravos, que busquem a lenha e a água, e façam cada dia o pão que se come, e outros serviços que não são possíveis poderem-se fazer pelos Irmãos Jesuítas, máxime sendo tão poucos, que seria necessário deixar as confissões e tudo mais. Parece-me que a Companhia de Jesus deve ter e adquirir escravos, justamente, por meios que as Constituições permitem, quando puder para nossos colégios e casas de meninos. 

(LEITE, S. História da Companhia de Jesus no Brasil. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileirra, 19385 (adaptado) 

O texto explicita premissas da expansão ultramarina portuguesa ao buscar justificar a



a)

propagação do ideário cristão.

b)

valorização do trabalho braçal.

c)

adoção do cativeiro na Colônia.

d)

adesão ao ascetismo contemplativo.

e)

alfabetização dos indígenas nas missões.

Resolução

A Companhia de Jesus é uma ordem religiosa criada em 1534 por Ignácio Loyola que teve uma participação fundamental na colonização portuguesa na América. A Companhia estabeleceu as missões jesuíticas, comunidades cristãs organizadas e dirigidas pelos padres, tendo como missão a catequese do gentio na Colônia. O texto justifica que os jesuítas "sendo tão poucos" não conseguiriam viver sem o trabalho de alguns escravos, pois acabariam tendo que abandonar as atividades religiosas para realizar os serviços do cotidiano. 
a) Incorreta. Embora a Companhia de Jesus tivesse como eixo fundamental de sua atuação a propagação do ideário cristão, o texto em questão não está justificando isso, mas sim a necessidade do uso de escravos para viabilizar a manutenção das atividades religiosas da ordem. 
b) Incorreta. O texto não valoriza especificamente o trabalho braçal. O argumento é o contrário, pois o texto defende que não é viável viver sem escravos  que façam o trabalho braçal para que os padres possam se dedicar às "confissões e tudo mais", ou seja, considera a atividade religiosa prioridade.
c) Correta. O texto traz premissas centrais da expansão ultramarina portuguesa na medida em que justifica a adoção do cativeiro na Colônia. Vale destacar que a colonização portuguesa no Brasil teve como mão de obra central a escravidão africana. A incorporação dos indígenas ao projeto colonial português poderia ser oficial, pois legalmente os nativos eram considerados súditos do  monarca luso. Além disso, os indígenas deveriam ser convertidos ao cristianismo, já que essa incumbência foi assumida pelos ibéricos para justificarem, em linhas gerais, a colonização do Novo Mundo. De acordo com os princípios da bula papal Sublimis Dei (1537), a escravização dos indígenas era admitida somente nos casos excepcionais de guerra justa, quando nativos hostis eram aprisionados durante uma ação de defesa por parte dos colonos, quando praticavam a antropofagia ou recusavam a catequese.  Nesse sentido, as missões jesuíticas buscaram controlar e preservar os nativos da escravização, enquanto admitiam, conforme apresentado pelo texto, o uso dos africanos como escravos que viabilizavam a manutenção de suas atividades religiosas. 
d) Incorreta. O ascetismo contemplativo envolve atividades de contemplação e meditação visando ao desenvolvimento espiritual. Esse tipo de atividade não foi mencionada no texto em questão. 
e) Incorreta. Os indígenas levados para as missões aprendiam a língua, estudavam, desenvolviam trabalhos coletivos na agricultura e no artesanato. No entanto, o texto não menciona a natureza das atividades desenvolvidas nessas comunidades, invalidando assim a alternativa.