Será que as coisas que pareciam diferentes se, de fato, todas elas existissem apenas na sua mente - se tudo o que você julgasse ser o mundo externo real fosse apenas um sonho ou alucinação gigante, de que você jamais fosse despertar? Se assim fosse, então é claro que você nunca poderia despertar, Como faz quando sonha, pois significaria que não há no mundo “real” no qual despertar. Logo, não seria exatamente igual a um sonho ou alucinação normal.
NAGEL, T. Uma Breve introdução à filosofia ponto São Paulo: Martins Fontes, 2011.
O texto confere visibilidade a uma doutrina filosófica contemporânea conhecida como:
a) |
Personalismo, que vincula a realidade circundante aos domínios do pessoal. |
b) |
Falsificacionismo, que estabelece ciclos de problemas para refutar uma conjectura. |
c) |
Falibilismo, que rejeita mecanismos mentais para sustentar uma crença inequívoca. |
d) |
Idealismo, que nega a existência de objetos independentemente do trabalho cognoscente. |
e) |
Solipsismo, que conhece limitações cognitivas para compreender uma experiência compartilhada. |
Essa questão trabalha a relação entre mente-corpo, temática estudada pelo filósofo estadunidense Thomas Nagel, uma das referências da chamada "filosofia da mente", área que se destaca, no século XX, na história da filosofia.
Quando esse debate está em pauta, uma das vertentes presentes é a chamada vertente "reducionista", que trata a mente como mero reflexo da atividade cerebral, exclusivamente bio-físico-química, segundo os reducionistas.
Nagel, posicionando-se de outra maneira, pensa que a problemática mente-corpo é insolúvel, não acreditando ser possível tratar a consciência como pura consequência de uma atividade cerebral exclusivamente materialista e, ao mesmo tempo, não acreditando ser possível tratar a mente como algo absolutamente distinto do corpo.
Nesse viés, o texto que contextualiza o exercício traz reflexões sobre o debate e, inevitavelmente, "confere visibilidade a uma doutrina filosófica contemporânea", como diz o enunciado. Tal doutrina é o solipsismo.
De acordo com os solipsistas, só podemos ter certeza de nosso eu, configurado pela nossa mente, que, isolada de outras mentes e do mundo, não conseguiria compartilhar experiências em comum.
Por isso tudo a alternativa correta é a alternativa "E". Contudo, há de se fazer algumas ponderações: A alternativa "A" traz um posicionamento pouco presente na educação básica, a saber, o posicionamento personalista de Emmanuel Mounier (considerando somente o campo da filosofia, sem nos remetermos, por exemplo, à psicologia); a alternativa "B" traz um posicionamento de outro tema da filosofia (a filosofia da ciência") e, por isso mesmo, não poderia ser a alternativa correta, conclusão que os alunos poderiam chegar através de uma leitura refinada do texto. A alternativa "C" , assim como a "A", traz um posicionamento também ausente da educação básica, a saber, o posicionamento falibilista (sem contar que falibilismo pode ser, também, um dos nomes do falsificacionismo - embora pouco provável nesse caso, considerando a explicação dada na alternativa). E, por fim, sobre a alternativa "D", um adendo: os solipsistas, em alguns casos, são chamados de idealistas, e vice-versa. Um exemplo: Descartes, autor estudado na educação básica, que é chamado, em alguns livros, de idealista e solipsista - sobretudo o Descartes das "Meditações Metafísicas". Esse fato poderia gerar uma imprecisão na questão, embora a explicação sobre o idealismo contida na alternativa não é precisa.
Vale destacar que a questão abordou uma temática pouco trabalhada no ensino básico, incluindo entre as alternativas escolas filosóficas não contempladas pelo currículo.