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Questão 39 Fuvest 2021 - 1ª fase

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Questão 39

República Oligárquica

Uma das folhas de ontem estampou (...) o programa da recepção presidencial em que, diante do corpo diplomático, da mais fina sociedade do Rio de Janeiro, aqueles que deviam dar ao país o exemplo das maneiras mais distintas e dos costumes mais reservados elevaram o Corta-jaca à altura de uma instituição social. Mas o Corta-jaca de que eu ouvira falar há muito tempo, que vem a ser ele, Sr. Presidente? A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, a irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba. Mas nas recepções presidenciais o "Corta-jaca" é executado com todas as honras da música de Wagner, e não se quer que a consciência deste país se revolte, que as nossas faces se enrubesçam e que a mocidade se ria!

Discurso do senador Rui Barbosa, Diário do Congresso Nacional, 8/11/1914, p. 2789.

A partir do texto, identifique a alternativa correta:



a)

    A crítica permite compreender que, apesar da mudança de regime político, as elites republicanas permaneceram adeptas da cultura cosmopolita e europeia.

b)

    O discurso elogia os esforços para compatibilizar a cultura republicana com as práticas e tradições dos grupos populares.

c)

    A eclosão da Primeira Guerra Mundial contribuiu para a difusão de uma política cultural de caráter nacionalista e excludente.

d)

    O programa musical adotado na recepção revelava tendências modernistas ao conferir status de arte às danças populares.

e)

    A apresentação do maxixe Corta-jaca indicava uma resposta para contornar a xenofobia e eugenia presentes na cultura oficial.

Resolução

O discurso de Rui Barbosa faz alusão a um curioso episódio da Primeira República brasileira. Na noite de 26 de outubro de 1914, celebrando o quatriênio de Hermes da Fonseca na presidência, a primeira-dama Nair de Tefé organizou uma inusitada apresentação musical, em um repertório que incluía um tango executado por ela própria, em pleno Palácio do Catete. O tango executado pela primeira-dama no violão era de Chiquinha Gonzaga, intitulado "Gaúcho" e popularmente conhecido como "Corta-jaca". A música foi apresentad para representantes do corpo diplomático e para a elite carioca, causando assim grande repercussão na imprensa, em forma de escárnio nos jornais e da severa crítica do então senador Rui Barbosa. 
a) Correta. O discurso do Senador Rui Barbosa, datado do ano de 1914, demonstra que as elites republicanas tinham como modelo cultural a ser seguido pelo Brasil os padrões europeus, considerados "civilizados". O senador em questão chama de "selvagem" estilos musicais que eram populares no Brasil, tais como o samba ou o "corta jaca", música de autoria de Chiquinha Gonzaga que fazia sucesso naquela época e que foi apresentado em uma cerimônia oficial do governo. Ao contrário, defendia a música clássica do alemão Wagner como o padrão a ser seguido.
b) Incorreta. Não há um esforço por parte do senador Rui Barbosa de compatibilizar a cultura local com o discurso oficial do Estado republicano brasileiro, uma vez que em sua manifestação o senador demonstra desprezar as tradições populares, chamadas de "selvagens".
c) Incorreta. O que é defendido pelo senador Rui Barbosa em seu discurso não é de caráter nacionalista. Ao contrário, considerava os aspectos culturais europeus como "superiores". Ao mesmo tempo, não há nenhuma relação entre o início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) com a difusão de uma política cultural nacionalista e excludente no Brasil. 
d) Incorreta. O modernismo como proposta cultural só se tornou importante no Brasil a partir da década de 1920, especialmente com a semana de arte moderna de 1922 em São Paulo. Assim, não é possível afirmar que, em 1914, o Estado brasileiro, cuja capital era na cidade do Rio de Janeiro, tenha tido como política oficial a difusão desses ideais.
e) Incorreta. Até a década de 1930 a intelectualidade brasileira considerava fundamental para um "avanço" da cultura brasileira a necessidade de políticas de "branqueamento" da população e o Estado brasileiro reprimia manifestações culturais que não se aproximassem da cultura europeia. Nesse sentido, seria inviável ao Estado Brasileiro manter qualquer política que confrontasse essa visão cultural.