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Questão 4 Unicamp 2021 - 1ª fase - 2º dia

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Questão 4

O Espelho

O conto “O espelho”, de Machado de Assis, apresenta o esboço de uma teoria sobre a alma humana. A tese apresentada defende a existência de duas almas (interior e exterior), que completam o homem. Contudo, o narrador faz uma distinção entre as almas que mudam de natureza e estado e aquelas que são enérgicas. Escolha a alternativa que ilustra, no conto, a mutabilidade da alma exterior.

 



a)

A liderança é a força sem a qual o poder político de Oliver Cromwell se extingue.

b)

A patente é a marca de distinção, sem a qual Jacobina se extingue.

c)

Os versos de Luís de Camões são uma declaração de amor à pátria, pela qual o poeta se dispõe a morrer.

d)

As moedas de ouro são o valor visível sem o qual Shylock prefere morrer.

Resolução

a) Incorreta. A fim de ilustrar a seus ouvintes a ideia de uma alma exterior enérgica, Jacobina cita “o poder, que foi a alma exterior de César e de Cromwell.”. Portanto, a liderança que sustenta o poder político de Oliver Cromwell não exemplifica um caso de mutabilidade, mas de uma alma exterior exclusiva.

b) Correta. Segundo a teoria de Jacobina, há almas exteriores que “embora enérgicas, (são) de natureza mudável.” Ele cita como exemplo “uma senhora, - na verdade, gentilíssima, - que muda de alma exterior cinco, seis vezes por ano.”. Na sequência, afirma: Eu mesmo tenho experimentado dessas trocas. Não as relato, porque iria longe; restrinjo-me ao episódio de que lhes falei.” O episódio relatado é a sua nomeação, aos vinte e cinco anos, como alferes da Guarda Nacional. A patente adquirida passa então a ser sua alma exterior, uma marca de distinção para o jovem. Embora essa alma ganhe tal proporção ao ponto de “o alferes eliminar o homem”, esse é um caso de mutabilidade, pois Jacobina não tinha uma vocação sincera para a carreira militar, apenas foi seduzido pelo impacto social provocado pelo novo cargo.

c) Incorreta. O amor de Luís de Camões à pátria, expresso em seus versos, é outro exemplo apresentado por Jacobina de uma alma exterior enérgica, que se mantém por toda a existência do poeta. Por isso, não ilustra a idéia de mutabilidade.

d) Incorreta. Ao referir-se a Shylock, personagem da peça O Mercador de Veneza, de Shakespeare, Jacobina relembra que o judeu, no auge de sua avareza, prefere a filha morta a perder suas pedras e ducados. Numa referência intertextual bem ao estilo machadinado, cita a frase proferida pelo personagem no momento em que ele recebe de Tubal notícias de que sua filha Jéssica teria gasto, em apenas uma noite em Gênova, oitenta ducados do dinheiro que lhe havia roubado: "Nunca mais verei o meu ouro, diz ele a Tubal; é um punhal que me enterras no coração." Trata-se de mais um caso de uma alma exterior enérgica e imutável, pois as moedas de ouro são um valor que está arraigado no personagem.