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Questão 7 Unicamp 2021 - 1ª fase - 2º dia

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Questão 7

Valor semântico com a mudança de gênero (substantivo)

Num mundo dominado por homens, a mulher é tratada como um ser diferenciado, que merece uma designação especial. Enquanto a expressão “o homem” pode equivaler a “o ser humano”, como na frase “O homem é mortal”, a expressão “a mulher” só se refere aos seres humanos do gênero feminino. A língua também revela um tratamentodiferente dado à mulher na sociedade ao conter designações específicas para ela, inexistentes para o homem. Assim, a mulher de um chefe de governo é chamada de “primeira-dama”, mas o marido de uma mulher que desempenha aquele cargo não é chamado de “primeiro-cavalheiro”.
Conta-se que Cecília Meireles recusava a designação de “poetisa”, por achar que esse termo não tinha a mesma conotação de “poeta” (usado para os homens), ao contrário, soava até pejorativo. Por outro lado, Dilma Rousseff exigia que a tratassem por “presidenta” para enfatizar que quem ocupava o cargo de chefe da nação brasileira era finalmente uma mulher.

(Adaptado de Francisco Jardes Nobre de Araújo, O machismo na linguagem. Disponível em https://www.parabolablog.com.br/index.php/ blogs/o-machismona-linguagem?fbclid=IwAR0n7sVvu2mNioWa1Gpp0BZL4TP6Uo-hGK7DKyltgIxkd tRfoOaI6OEPCZE. Acessado em 05/06/2020.)

Segundo o autor de “O machismo na linguagem”,



a)

o hábito de usar “o homem” para representar a humanidade faz com que o feminino se torne um gênero subalterno.

b)

a prática da designação do gênero feminino na língua portuguesa leva ao fim do privilégio do masculino na linguagem.

c)

o emprego de palavras no feminino evita o viés machista e incentiva uma menor diferenciação entre os gêneros.

d)

a escolha de algumas palavras para marcar o gênero feminino pode se relacionar com a valorização social da mulher.

Resolução

O trecho permite inferir que o autor enxerga que há uma inferiorizarão do gênero feminino em relação ao masculino. Desse modo:

a) Incorreta. É complexo afirmar que, na visão do autor, o hábito de usar “o homem” para representar a humanidade seja a causa do feminino se tornar um gênero subalterno. Essa afirmação extrapolaria os limites do texto que foi adaptado para essa questão. De fato, o autor fala sobre a amplitude da palavra “homem” se comparada à “mulher”, mas dizer que a inferiorização do gênero feminino ocorre em virtude dessa amplitude é equivocado. Não há, no texto, menções para que se coloque o uso da linguagem como a causa da subalternização da mulher, mas como sua expressão, o que é reforçado pelo trecho “A língua também revela um tratamento diferente dado à mulher na sociedade”, isto é, a língua expressa o fenômeno, sendo excessivo afirmar que a linguagem seja a causa da subalternização.

b) Incorreta. O texto como um todo, em nenhum momento, mostra que o uso do gênero feminino elimina o privilégio masculino na linguagem. Ao contrário disso, exemplos como “primeira-dama” e “poetisa” sugerem que o gênero masculino seja privilegiado em detrimento do feminino.

c) Incorreta. O autor, no início do texto, aborda a diferença de amplitude das palavras “homem” e “mulher”, o que invalida a primeira parte desta alternativa, visto que, nesse caso, a palavra no masculino tem maior amplitude que a palavra correspondente no feminino. Além disso, o autor fala sobre designações específicas às mulheres e traz como exemplo “primeira-dama”, o que faz com que a segunda parte da alternativa também seja invalidada, pois esse tratamento específico evidencia que algumas palavras podem acentuar a diferenciação entre gêneros, já que não há um tratamento correspondente no masculino.

d) Correta. Há um momento em que o texto, claramente, traz uma palavra no gênero feminino que se relaciona à valorização social da mulher: quando o autor menciona a opção de Dilma Roussef em ser chamada de presidenta. Desse modo, embora essa visão seja uma opinião da ex-presidenta e não do autor do texto, essa alternativa é a que melhor responde à questão, visto que se trata de um texto em que a opinião do autor aparece de maneira sutil.