Logo UNICAMP

Questão 6 Unicamp 2021 - 1ª fase - 1º dia

Carregar prova completa Compartilhe essa resolução

Questão 6

Padre Antônio Vieira

Repartimos a vida em idades, em anos, em meses, em dias, em horas, mas todas estas partes são tão duvidosas, e tão incertas, que não há idade tão florente, nem saúde tão robusta, nem vida tão bem regrada, que tenha um só momento seguro.”

(Antonio Vieira, “Sermão de Quarta-feira de Cinza – ano de 1673”, em A arte de morrer. São Paulo: Nova Alexandria, 1994, p. 79.)

Nesta passagem de um sermão proferido em 1673, Antônio Vieira retomou os argumentos da pregação que fizera no ano anterior e acrescentou novas características à morte. Para comover os ouvintes, recorreu ao uso de anáforas.

Assinale a alternativa que corresponde ao efeito produzido pelas repetições no sermão.



a)

A repetição busca sensibilizar os fiéis para o desengano da passagem do tempo.

b)

A repetição busca demonstrar aos fiéis o temor de uma vida longeva.

c)

A repetição busca sensibilizar os fiéis para o valor de cada etapa da vida.

d)

A repetição busca demonstrar aos fiéis a insegurança de uma vida cristã

 

 

 

 

Resolução

Pode-se observar o uso de anáforas na repetição da preposição: “em idades, em anos, em meses, em dias, em horas” e do advérbio “tão duvidosas, e tão incertas, que não há idade tão florente, nem saúde tão robusta, nem vida tão bem regrada”.

No sermão de 1673, Antônio Vieira apresenta a necessidade de “morrer antes de morrer”, isto é, de antecipar simbolicamente a morte, adotando como regra de vida a ascese cristã, um conjunto de práticas relacionadas à penitência, à oração e ao desapego das coisas mundanas.

Tendo isso em vista, podemos examinar as alternativas:

a) Correta. Muitos fiéis podem acreditar que terão tempo para se converter no final de suas vidas, na velhice, por isso, enquanto são jovens e robustos, não se preocupam com a morte e tampouco com a vida espiritual. O pregador, porém, através das anáforas, os alerta que a divisão da vida “em idades, em anos, em meses, em dias, em horas” é incerta e enganosa, uma vez que é artificial. Assim, nenhum momento da vida está seguro, seja a juventude ou a velhice, logo a resolução por uma vida cristã deve ser imediata, independentemente da idade em que se encontra. Dessa forma, o pregador sensibiliza os fiéis, desenganando-os acerca do erro que seria contar com a passagem do tempo e confiar na segurança de cada etapa da vida, em especial da juventude.

b) Incorreta. A argumentação busca demonstrar aos fiéis a temeridade que é esperar ter uma vida longeva. Baseados nessa crença, muitos poderão deixar para se converter somente no final da vida, entretanto, como o pregador demonstrou, em nenhum momento estamos seguros, ou seja, estamos sujeitos à morte mesmo na juventude. Logo, não é garantido que as esperanças de se ter uma vida longeva se concretizarão.

c) Incorreta. A argumentação procura alertar os fiéis a respeito da precariedade e insegurança de cada etapa da vida, logo, a ênfase recai sobre a fragilidade e não sobre o valor da vida.

d) Incorreta. O pregador procura convencer os fiéis de que o único modo de permanecer seguro é adotar os preceitos cristãos como norma de vida. Somente antecipando simbolicamente a morte, morrendo para as coisas mundanas e vivendo a vida espiritual, o cristão estará preparado para morrer em estado de santidade e assim, alcançar a salvação.