Leia a crônica “Inconfiáveis cupins”, de Moacyr Scliar, para responder às questões de 07 a 12.
Havia um homem que odiava Van Gogh. Pintor desconhecido, pobre, atribuía todas suas frustrações ao artista holandês. Enquanto existirem no mundo aqueles horríveis girassóis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes deformados, dizia, não poderei jamais dar vazão ao meu instinto criador.
Decidiu mover uma guerra implacável, sem quartel, às telas de Van Gogh, onde quer que estivessem. Começaria pelas mais próximas, as do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Seu plano era de uma simplicidade diabólica. Não faria como outros destruidores de telas que entram num museu armados de facas e atiram-se às obras, tentando destruí-las; tais insanos não apenas não conseguem seu intento, como acabam na cadeia. Não, usaria um método científico, recorrendo a aliados absolutamente insuspeitados: os cupins.
Deu-lhe muito trabalho, aquilo. Em primeiro lugar, era necessário treinar os cupins para que atacassem as telas de Van Gogh. Para isso, recorreu a uma técnica pavloviana. Reproduções das telas do artista, em tamanho natural, eram recobertas com uma solução açucarada. Dessa forma, os insetos aprenderam a diferenciar tais obras de outras.
Mediante cruzamentos sucessivos, obteve um tipo de cupim que só queria comer Van Gogh. Para ele era repulsivo, mas para os insetos era agradável, e isso era o que importava.
Conseguiu introduzir os cupins no museu e ficou à espera do que aconteceria. Sua decepção, contudo, foi enorme. Em vez de atacar as obras de arte, os cupins preferiram as vigas de sustentação do prédio, feitas de madeira absolutamente vulgar. E por isso foram detectados.
O homem ficou furioso. Nem nos cupins se pode confiar, foi a sua desconsolada conclusão. É verdade que alguns insetos foram encontrados próximos a telas de Van Gogh. Mas isso não lhe serviu de consolo. Suspeitava que os sádicos cupins estivessem querendo apenas debochar dele. Cupins e Van Gogh, era tudo a mesma coisa.
(O imaginário cotidiano, 2002.)
“Enquanto existirem no mundo aqueles horríveis girassóis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes deformados, dizia, não poderei jamais dar vazão ao meu instinto criador.” (1º parágrafo)
Ao se transpor o trecho para o discurso indireto, os termos sublinhados assumem a seguinte redação:
a) |
existirem, pode, meu. |
b) |
existissem, poderia, seu. |
c) |
existiam, puderem, meu. |
d) |
existem, poderei, dele. |
e) |
tenham existido, terá podido, seu. |
A transposição do discurso direto para o discurso indireto cria um aspecto de distanciamento entre o narrador e o que está sendo narrado. O trecho “Enquanto existirem no mundo aqueles horríveis girassóis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes deformados, dizia, não poderei jamais dar vazão ao meu instinto criador” apresenta verbo no futuro do subjuntivo, no futuro do presente e pronome possessivo em primeira pessoa do singular, respectivamente. Portanto, transpondo tal fragmento para o discurso indireto, as palavras sublinhadas vão se flexionar de modo a estabelecer um distanciamento, pois não será mais o personagem falando, e sim o narrador. Sendo assim, o primeiro verbo sublinhado passa do futuro do subjuntivo para o pretérito imperfeito do subjuntivo; o segundo verbo passa do futuro do presente para o futuro do pretérito; e o pronome possessivo passa da primeira para a terceira pessoa do singular: "Enquanto existissem no mundo aqueles horríveis girassóis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes deformados, dizia, não poderia jamais dar vazão ao seu instinto criador” Logo, a alternativa correta é a B.