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Questão 10 Unifesp 2020 - 2ª fase - Português, Inglês e Redação

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Questão 10

elipse

Leia a crônica “Inconfiáveis cupins”, de Moacyr Scliar, para responder às questões de 07 a 12.

    Havia um homem que odiava Van Gogh. Pintor desconhecido, pobre, atribuía todas suas frustrações ao artista holandês. Enquanto existirem no mundo aqueles horríveis girassóis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes deformados, dizia, não poderei jamais dar vazão ao meu instinto criador.

    Decidiu mover uma guerra implacável, sem quartel, às telas de Van Gogh, onde quer que estivessem. Começaria pelas mais próximas, as do Museu de Arte Moderna de São Paulo.

    Seu plano era de uma simplicidade diabólica. Não faria como outros destruidores de telas que entram num museu armados de facas e atiram-se às obras, tentando destruí-las; tais insanos não apenas não conseguem seu intento, como acabam na cadeia. Não, usaria um método científico, recorrendo a aliados absolutamente insuspeitados: os cupins.

    Deu-lhe muito trabalho, aquilo. Em primeiro lugar, era necessário treinar os cupins para que atacassem as telas de Van Gogh. Para isso, recorreu a uma técnica pavloviana. Reproduções das telas do artista, em tamanho natural, eram recobertas com uma solução açucarada. Dessa forma, os insetos aprenderam a diferenciar tais obras de outras.

    Mediante cruzamentos sucessivos, obteve um tipo de cupim que só queria comer Van Gogh. Para ele era repulsivo, mas para os insetos era agradável, e isso era o que importava.

    Conseguiu introduzir os cupins no museu e ficou à espera do que aconteceria. Sua decepção, contudo, foi enorme. Em vez de atacar as obras de arte, os cupins preferiram as vigas de sustentação do prédio, feitas de madeira absolutamente vulgar. E por isso foram detectados.

    O homem ficou furioso. Nem nos cupins se pode confiar, foi a sua desconsolada conclusão. É verdade que alguns insetos foram encontrados próximos a telas de Van Gogh. Mas isso não lhe serviu de consolo. Suspeitava que os sádicos cupins estivessem querendo apenas debochar dele. Cupins e Van Gogh, era tudo a mesma coisa.

(O imaginário cotidiano, 2002.)


Observa-se a elipse de um substantivo no trecho:



a)

“Para ele era repulsivo, mas para os insetos era agradável, e isso era o que importava” (5º parágrafo)

b)

“Começaria pelas mais próximas, as do Museu de Arte Moderna de São Paulo” (2º parágrafo)

c)

“Decidiu mover uma guerra implacável, sem quartel, às telas de Van Gogh” (2º parágrafo)

d)

“Seu plano era de uma simplicidade diabólica” (3º parágrafo)

e)

“Reproduções das telas do artista, em tamanho natural, eram recobertas com uma solução açucarada” (4º parágrafo)

Resolução

A elipse consiste na supressão de um termo que pode ser facilmente identificado pelo contexto.  O enunciado pede para que se assinale a alternativa na qual um substantivo está suprimido.

a) Incorreta. Nesse fragmento, há a supressão de uma oração, pois a forma verbal “era”, em suas duas ocorrências, possui como sujeito oracional o fragmento “comer Van Gogh” que aparece anteriormente.

b) Correta. Há, claramente, a elipse do substantivo “telas”, que está subentendido em “as (telas) do Museu de Arte.

c) Incorreta. De fato, há, nesse fragmento, a presença de um sujeito oculto (elíptico). Entretanto, ao recuperar tal sujeito, não há, ao certo, unicamente um substantivo que pode representá-lo. É possível, pelo contexto, recuperar “homem que odiava Van Gogh”  ou “Pintor desconhecido”.

d) Incorreta. Não há nenhuma elipse nesse fragmento.

e) Incorretas. Não há nenhuma elipse nesse fragmento.