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Questão 0 Enem 2019 - dia 1 - Linguagens e Ciências Humanas

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Redação

Redação

TEXTOS MOTIVADORES

TEXTO I

No dia da primeira exibição pública de cinema - 28 de dezembro de 1895, em Paris -, um homem de teatro que trabalhava com mágicas, Georges Mélies, foi falar com Lumière, um dos inventores do cinema; queria adquirir um aparelho, e Lumière desencorajou-o, disse-lhe que o "Cinematógrapho" não tinha o menor futuro como espetáculo, era um instrumento científico para reproduzir o movimento e só poderia servir para pesquisas. Mesmo que o público, no início, se divertisse com ele, seria uma novidade de vida breve, logo cansaria. Lumière enganou-se. Como essa estranha máquina de austeros cientistas virou a máquina de contar estórias para enormes plateias, de geração em geração, durante já quase um século?

BERNARDET, Jean-Claude. O que é Cinema. In BERNARDET, Jean-Claude; ROSSI, Clóvis. O que é Jornalismo, O que é Editora, O que é Cinema. São Paulo: Brasiliense, 1993.

TEXTO II

Edgar Morin define o cinema como uma máquina que registra a existência e a restitui como tal, porém levando em consideração o indivíduo, ou seja, o cinema seria um meio de transpor para a tela o universo pessoal, solicitando a participação do espectador.

GUTFREIND, C. F. O filme e a representação do real. E-Compós, v. 6, 11, 2006 (adaptado).
 

TEXTO III

Disponível em: www.meioemensagem.com. Acesso em: 12 jun. 2019 (adaptado).

TEXTO IV

O Brasil já teve um parque exibidor vigoroso e descentralizado: quase 3300 salas em 1975, uma para cada 30000 habitantes, 80% em cidades do interior. Desde então, o país mudou. Quase 120 milhões de pessoas a mais passaram a viver nas cidades. A urbanização acelerada, a falta de investimentos em infraestrutura urbana, a baixa capitalização das emppresas exibidoras, as mudanças tecnológicas, entre outros fatores, alteraram a geografia do cinema. Em 1997, chegamos a pouco mais de 1000 salas. Com a expansão dos shoppings centers, a atividade de exibição se reorganizou. O número de cinemas duplicou, até chegar às atuais 2200 salas. Esse crescimento, porém, além de insuficiente (o Brasil é apenas o 60º país na relação habitantes por sala), ocorreu de forma concentrada. Foram privilegiadas as áreas de renda mais alta das grandes cidades. Populações inteiras foram excluídas do universo do cinema ou continuam mal atendidas: o Norte e o Nordeste, as periferias urbanas, as cidades pequenas e médias do interior.

    Disponível em: https://cinemapertodevoce.ancine.gov.br. Acesso em: 13 jun. 2019 (fragmento).

 


PROPOSTA DE REDAÇÃO

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema "Democratização do acesso ao cinema no Brasil", apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para a defesa de seu ponto de vista.    



Comentários

O tema da prova de redação do ENEM 2019 foi "Democratização do acesso ao cinema no Brasil", trazendo, mais uma vez, uma situação-problema que o candidato deveria explorar em seu texto. Neste ano, a proposta problematizou um tema de extrema relevância para a sociedade brasileira, que é a democratização do acesso à cultura, enfatizando a importância do cinema para a discussão proposta.  

O Texto I trata-se de um recorte do livro "O que é Jornalismo, O que é Editora, O que é Cinema", que apresenta a tentativa inovadora de Georges Mélies de adquirir um cinematógrapho na época da primeira exibição pública de cinema, em Paris, no ano de 1895. Nesse episódio, Mélies foi desencorajado por Lumière a adquirir o aparelho, pois, na visão do inventor, tratava-se apenas de um instrumento científico para produzir o movimento e que não divertiria o público por muito tempo. A partir da leitura deste excerto, o candidato pode, então, traçar um paralelo com o contexto atual, em que o cinema tem papel de grande importância, cultural e econômica, em todo o mundo.

O Texto II aponta para a possibilidade que o cinema traz ao espectador de se identificar e se conectar às histórias, ficcionais ou não, retratadas nas telas. A partir dessa leitura, o candidato poderia mobilizar como repertório externo exemplos significativos de produções de cinema que ilustram esse poder de transposição de um universo pessoal para o cinematográfico.

O Texto III demonstra, por meio de dados estatísticos, que cresceu o percentual de brasileiros que frequentam salas de cinema e que assistem a filmes regularmente na TV. Tais números poderiam ser utilizados pelo candidato para ilustrar de que forma o cinema vem atingindo diferentes vias de exibição, o que pode sugerir um movimento de democratização entre a sociedade brasileira.

O Texto IV, retirado do portal da Ancine (Agência Nacional do Cinema), informa que o número de salas de cinema do Brasil sofreu variações ao longo dos anos. Atualmente, devido à expansão dos shopping centers, esse número soma 2200, sendo que a maior parte delas está concentrada em áreas privilegiadas de renda mais alta das grandes cidades. Tal cenário demonstra que há uma desigualdade no acesso a essa forma de cultura, uma vez que populações inteiras foram excluídas do universo do cinema ou continuam mal atendidas. O candidato poderia incorporar à discussão, a partir desse excerto, a ideia de que existe uma barreira física (a inexistência e má distribuição de salas de cinema) e uma barreira simbólica (o não pertencimento a uma elite cultural) que cerceiam o acesso de classes menos privilegiadas aos produtos culturais.

Logo, era desejável que o candidato percebesse que há uma relação intrínseca entre cultura e direitos humanos, o que motiva a luta pela democratização do acesso aos bens culturais. Nesse sentido, considerando que a frase temática exigia que a discussão fosse norteada pela baliza "cinema", a(s) proposta(s) de intervenção deveria(m) propor ações concretas capazes de minimizar tamanha desigualdade no acesso a esse produto cultural. Por fim, o candidato poderia reconhecer os direitos culturais como uma necessidade básica e um direito dos cidadãos, o que conduz à necessidade de aperfeiçoamento de estratégias de integração da cultura com as demais políticas sociais.