este livro
Meu filho. Não é automatismo. Juro. É jazz do coração. É
prosa que dá prêmio. Um tea for two total, tilintar de verdade
que você seduz, charmeur volante, pela pista, a toda. Enfie a
carapuça.
E cante.
Puro açúcar branco e blue.
(Ana Cristina César, A teus pés. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 29.)
a) No poema “este livro” usa-se um recurso poético chamado aliteração. Explique o que é aliteração e identifique um exemplo de aliteração presente nesse texto poético.
b) O poema propõe uma definição do próprio livro e inclui algumas “instruções” para o provável leitor. Identifique dois verbos que instruem o leitor e explique a frase “Não é automatismo”, com base no conjunto do poema.
a) A aliteração é um recurso poético caracterizado pela repetição de fonemas que correspondem a sons consonantais; em geral, é empregada para conferir musicalidade ao texto. No excerto do poema de Ana Cristina César verifica-se a aliteração nos seguintes fragmentos:
“prosa que dá prêmio”: repetição dos fonemas correspondente a /p/ e /r/.
“Um tea for two total, tilintar de verdade”: repetição do fonema correspondente a /t/.
“pela pista”: repetição do fonema correspondente a /p/.
“branco e blue”: repetição do fonema correspondente a /b/.
b) Os verbos que instruem o leitor são “enfiar” em “Enfie a carapuça” e “cantar” em “E cante”. Note-se que esses verbos estão flexionados no modo imperativo, o que reforça o aspecto instrucional do texto.
Ao definir seu livro, o eu-lírico afirma que “não é automatismo”, ou seja, não se trata de uma obra convencional, adequada à regras, formas ou princípios literários. Nesse sentido, a autora não está preocupada em reproduzir automaticamente uma expressão poética que se encaixe em um modelo preestabelecido. Antes disso, segundo ela própria, seu livro é “jazz no coração”, “prosa que dá prêmio”, “Um tea for two total, tilintar de verdade”, “charmeur volante, pela pista, a toda”, “Puro açúcar branco e blue” – tais expressões aludem ao fato de que o livro seria antes uma obra que vem do coração, das experiências e emoções mais profundas e intensas do eu-lírico e que, por isso, expressaria a verdade e a autencidade de sua subjetividade.