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Questão 5 Unicamp 2020 - 2ª fase - dia 1 - Português, Inglês e Redação

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Questão 5

Interpretação de Textos Pressupostos e Subentendidos

Voltou à moda o velho “faça você mesmo” ou bricolagem. A ideia de que às vezes é melhor trabalhar com a mão na massa, engajando os cidadãos, se tornou uma metáfora para práticas pedagógicas, ações políticas, retórica empreendedora. Mas poucos usam, no Brasil, o termo que melhor representa essa potência criativa de que as pessoas são capazes: gambiarra. Palavra menos nobre, gambiarra existe, no Brasil e em outros países de língua portuguesa, quase sempre como um termo popular, dialetal ou depreciativo. Porque é um faça-você-mesmo rebelde que recombina peças já existentes, no interior de regras dadas, para inventar novas funções e afirmar novas regras. Escolhi cinco livros que mostram as gambiarras em ação, entre eles, A invenção do cotidiano: Artes de fazer, de Michel de Certeau. Nesse livro, o historiador e teólogo francês apresenta um estudo analítico e um elogio político da criatividade do “cidadão comum”. Ao traçar uma distinção entre estratégias (as regras do jogo formuladas pelos que têm o poder de estabelecer regras) e táticas (os gestos, ações, invenções dos subjugados, que tentam lidar com as regras, mas também achar um jeitinho de driblá-las), Certeau revela as gambiarras que fazem com que o cotidiano se invente e reinvente.

(Adaptado de Yurij Castelfranchi, Livros para imaginar, apreciar e fazer gambiarras. Disponível em https://www.nexojornal.com.br/estante/favoritos/2019/5-livros-para-imaginar-apre ciar-e-fazer-gambiarras. Acessado em 10/08/2019.)


a) Explique por que a gambiarra é, ao mesmo tempo, indisciplinada e criativa.

b) Segundo Castelfranchi, como Michel de Certeau associa a ideia de gambiarra às ações políticas do cidadão comum? Responda com base em dois exemplos citados no texto.



Resolução

a) A gambiarra consiste na inventividade para solucionar uma situação-problema, ao mesmo tempo que se relaciona à quebra de regras já existentes. Ou seja, para que um indivíduo faça uma gambiara, ele precisa atribuir funções novas a, por exemplo, um objeto, e essa atitude exige criatividade e, também, reflete uma ação rebelde, visto que esse objeto já tinha funções pré-estabelecidas. Dessa forma, é válido afirmar que a gambiarra é criativa por necessitar da capacidade de invenção de um indivíduo e, também, que ela é indisciplinada justamente por ir de encontro a regras a fim de que um problema seja solucionado.

b) De acordo com Castelfranch, Michel de Certeau associa a ideia de gambiarra às ações políticas do cidadão-comum, fazendo um elogio à criatividade desse cidadão, pois este elabora estratégias e táticas a fim de lidar com as regras impostas por aqueles que detêm o poder, mas, ao mesmo tempo, com intuito de driblar tais regras, de modo a reinventar o seu cotidiano.