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Questão 57 Fuvest 2020 - 1ª fase

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Questão 57

Doenças (Vírus) Tecido conjuntivo

Um paciente, com câncer sanguíneo (linfoma) e infectado por HIV, fez quimioterapia e recebeu um transplante de célulastronco da medula óssea de um doador resistente ao HIV. Como resultado, tanto o câncer como o HIV retroagiram neste paciente. O receptor mais usado pelo HIV para entrar nas células do corpo é o CCR5. Um pequeno número de pessoas resistentes ao HIV tem duas cópias mutadas do gene do receptor CCR5. Isso significa que o vírus não pode penetrar nas células sanguíneas do corpo que costumam ser infectadas. O paciente recebeu células‐tronco da medula óssea de um doador que tem essa mutação genética específica, o que fez com que também ficasse resistente ao HIV. 

Disponível em https://www.bbc.com/. Março/2019. Adaptado.


A terapia celular a que o texto se refere  



a)

permitirá que eventuais futuros filhos do paciente transplantado também possuam células resistentes à infecção pelo HIV.

b)

possibilitou a produção, pelas células sanguíneas do paciente após o transplante, de receptores CCR5 aos quais  vírus HIV não se liga

c)

promoveu mutações no gene CCR5 das células do paciente, ocasionando a produção de proteína à qual o HIV não se liga.

d)

gerou novos alelos mutantes que interagem com o gene do receptor CCR5 do paciente, ocasionando a resistência à entrada do HIV nas células do paciente.

e)

confirma que o alelo mutante que confere resistência à infecção pelo HIV é dominante sobre o alelo selvagem do gene CCR5.

Resolução

O câncer pode ser descrito pelo crescimento irregular e desordenado de células anormais dentro de tecidos sadios, podendo se espalhar para outros tecidos e órgãos. No caso do linfoma descrito na questão, uma alternativa associada à quimioterapia é o transplante de medula óssea. Nesse procedimento a medula óssea vermelha cancerosa do receptor é eliminada e dá lugar à uma nova medula, originada a partir de células tronco hematopoiéticas provenientes da medula do doador. As células sanguíneas são originadas a partir das células tronco hematopoiéticas mediante um processo de diferenciação celular. No processo de diferenciação as células da linhagem mieloide originarão as hemácias, os neutrófilos, basófilos, eosinófilos, monócitos e outras células; já a linhagem linfoide originará linfócitos B e os vários tipos de linfócitos T, entre eles o Linfócito T4, ou T auxiliador, célula essencial para a defesa imunológica específica por comandar a produção de anticorpos. O linfócito T4 é a principal célula alvo do vírus da imunodeficiência humana, o HIV. Esse retrovírus, além do capsídeo, possui um envelope viral repleto de glicoproteínas, algumas dessas moléculas são importantes para o reconhecimento e entrada na célula alvo hospedeira. O linfócito T4, por sua vez, também possui receptores de membrana importantes para o reconhecimento descrito, como o CCR5, uma proteína de membrana sem a qual o vírus HIV não consegue penetrar a célula alvo.

De acordo com a questão, o doador possui duas cópias da mutação no gene da CCR5 em suas células, desse modo, após o transplante, a nova medula do receptor passou a produzir linfócitos T4 com o gene do receptor CCR5 mutado. Dessa forma, assim como ocorria com o doador, os novos linfócitos T4 do paciente agora também conseguem evitar a entrada do vírus na célula, o que explica os resultados observados do procedimento.

Assim, podemos analisar as alternativas.

a) Incorreta. Como o transplante foi apenas de medula óssea, as células responsáveis pela produção de gametas no paciente não foram modificadas e não possuirão as cópias do gene CCR5. Portanto, os espermatozoides também não carregarão cópias do gene mutado. Os eventuais futuros filhos do paciente não serão resistentes à infecção pelo HIV.

b) Correta. A terapia realizada faz com que as células dos novos linfócitos tenham receptores CCR5 modificados com os quais o HIV não se liga. Com a terapia o paciente teve melhora no quadro clínico do câncer e redução da carga viral do HIV.     

c) Incorreta. A terapia não induziu mutações no gene do receptor CCR5. Essa mutação já existia nas células do doador e passou a também existir no paciente via transferência de células tronco.

d) Incorreta. O transplante não gerou novos alelos mutantes. Além disso, os receptores CCR5 não interagem com o gene da célula, mas com as glicoproteínas virais presentes no envelope viral do HIV.

e) Incorreta. Não é possível fazer tal afirmação. Houve apenas uma transferência de células de um doador para um receptor, sem interação de alelos mutado e selvagem. Para termos informações sobre recessividade e dominância teríamos que analisar informações familiares em um heredograma. Além disso, é provável que o alelo mutado seja recessivo, já que o enunciando menciona que o doador possui duas cópias mutadas do gene do receptor CCR5 e que há apenas um pequeno número de pessoas resistentes ao HIV.