Documentos da Agência Central de Inteligência Americana (CIA) mostram que o Brasil quis liderar a Operação Condor e só não conseguiu porque enfrentou resistência dos outros países membros – Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Bolívia. (...) Os documentos da CIA fazem parte do Projeto de Desclassificação Argentina (The Dirty War, 1976-1983), do governo americano, e incluem mais de 40 mil páginas. Duas dezenas delas fazem menções ao Brasil (...).
Marcelo Godoy, O Estado de São Paulo. Abril/2019.
A respeito da Operação Condor, é correto afirmar:
a) |
Ainda que tivesse um alvo comum de repressão política, ela não implicava o alinhamento automático dos regimes ditatoriais de cada país. |
b) |
Ao encontrar resistência dos demais países que dela participavam, o Brasil passou a criticar publicamente suas ações. |
c) |
Em vista da oposição norte‐americana à iniciativa, a cooperação entre os países membros não foi implantada. |
d) |
O governo ditatorial paraguaio assumiu a posição de liderança no acordo firmado entre seus países fundadores. |
e) |
Limitou‐se à troca de informações sobre os opositores políticos que buscaram exílio em cada um desses países. |
a) Correta. A Operação Condor foi uma cooperação internacional para a repressão de opositores políticos entre os regimes ditatoriais então instalados no Cone Sul, nas décadas de 1970 e 1980. Tal cooperação visava à troca de informações e à repressão de elementos considerados "subversivos" pelos governos participantes, sendo que tal operação foi realizada com o conhecimento e apoio do serviço de inteligência norte-americano. Neste exercício, o documento revela uma tensão entre os governos autoritários no Cone Sul sobre o projeto, na qual o Brasil buscava exercer uma proeminência na operação em detrimento dos demais governos. Contudo, como o próprio documento revela, os demais governos membros rejeitaram tal liderança brasileira, revelando que, embora alinhados no projeto de repressão internacional aos considerados subversivos, os governos tinham interesses e diferenças em outros aspectos. Portanto, ainda que convergentes, não é possível afirmar que havia um completo "alinhamento automático", conforme expresso na alternativa
b) Incorreta. Ainda que o documento fornecido na questão aponte para uma tensão entre o Brasil e demais ditaduras latino-americanas, não é possível afirmar que o governo brasileiro passou a criticar publicamente as ações da Operação Condor. Pelo contrário, o regime militar brasileiro cooperou com os andamentos na atividade internacional, e também usufruía de informações acerca de elementos subversivos brasileiros exilados nos demais países, como relatórios sobre o então líder estudantil José Serra, exilado no Chile naquele contexto.
c) Incorreta. Os Estados Unidos não foram contrários à iniciativa, e tampouco é possível afirmar que essa medida "não foi implantada". Quanto ao interesse dos EUA, vale lembrar que a Operação Condor ocorreu em um contexto da Guerra Fria e, após o sucesso da Revolução Cubana em 1959, o que agravou a preocupação sobre uma possível difusão de governos socialistas na região. Desta forma, havia um expresso interesse dos Estados Unidos em garantir a permanência dos países do Cone Sul dentro de sua área de influência, sendo um importante aliado dos governos autoritários instaurados na América Latina durante os anos de 1960 e 1970. Dados contemporâneos liberados pelo Governo Americano reforçam o apoio e articulação dos serviços de inteligência daquele país na operação.
d) Incorreta. Não é possível afirmar que os paraguaios tiveram uma liderança nas operações em questão. Ainda que o governo ditatorial de Alfredo Stroessner (1954-1989) tenha contribuído para o andamento da atividade repressiva, ele não exerceu destacada liderança regional. Ressalta-se que, ainda que a Operação Condor tivesse uma sede no Chile, suas ações não dependiam necessariamente de uma aprovação central, sendo normalmente realizadas de forma bilateral entre os países nas operações específicas.
e) Incorreta. Ainda que a troca de informação fosse um importante aspecto da operação, esta não se limitou ao câmbio de informações. Suas orientações também envolviam a ação repressiva de elementos considerados subversivos, com a prisão e assassinato de investigados. Em 2016, por exemplo, a Justiça Argentina deu sentença final condenando 15 responsáveis sobre o desaparecimento de 105 vítimas da Operação Condor entre os anos de 1970 e 1980, o que revela seu caráter repressivo e violento.