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Questão 47 Unesp 2020 - 1ª fase

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Questão 47

Geração de 30

    A ideia de pátria se vinculava estreitamente à de natureza e em parte extraía dela a sua justificativa. Ambas conduziam a uma literatura que compensava o atraso material e a debilidade das instituições por meio da supervalorização dos aspectos regionais, fazendo do exotismo razão de otimismo social. A partir de 1930 houve uma mudança de orientação, sobretudo na ficção regionalista, percebendo-se o que havia de mascaramento no encanto pitoresco com que antes se abordava o homem rústico. Evidenciou-se a realidade dos solos pobres, das técnicas arcaicas, da miséria pasmosa das populações, da sua incultura paralisante. A visão que resulta dessa perspectiva é pessimista quanto ao presente e problemática quanto ao futuro.

(Antonio Candido. A educação pela noite e outros ensaios, 1989. Adaptado.)

O excerto assinala uma reorientação nos rumos da literatura brasileira, na medida em que os escritores



a)

deparam-se com a instituição de uma regionalização oficial pelo IBGE.

b)

passam a mostrar os aspectos do Brasil como país subdesenvolvido.

c)

reconhecem o estabelecimento de alianças democráticas no Brasil.

d)

percebem a assimilação do american way of life pelo povo brasileiro.

e)

optam pelo emprego de uma visão eurocêntrica em sua produção literária.

Resolução

a) Incorreta. O texto de Antonio Candido não faz qualquer referência ao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), órgão que é o principal provedor de dados e informações do Brasil. 

b) Correta. O texto de Antonio Candido registra uma reorientação na literatura brasileira a partir do regionalismo modernista, cujos autores passam a denunciar em suas obras as desigualdades sociais típicas do subdesenvolvimento brasileiro. Alguns exemplos: Graciliano Ramos, em Vidas Secas, denuncia a seca, a fuga dos retirantes da miséria e a opressão social no Nordeste; Rachel de Queiroz, em O Quinze, retrata a grade seca do Nordeste de 1915; José Américo de Almeida, em A Bagaceira, retrata a seca nordestina em 1898 e a fuga dos retirantes; José Lins do Rego, em Menino de Engenho, retrata a decadência do cilco do açúcar no Nordeste; Jorge Amado, em Capitães da Areia, retrata a vida de um grupo de menores abandonados na cidade de Salvador. Todos esses exemplos ilustram, de uma ou outra forma, o que descreve Candido no trecho a seguir: "(...) Evidenciou-se a realidade dos solos pobres, das técnicas arcaicas, da miséria pasmosa das populações, da sua incultura paralisante."

c) Incorreta. O texto de Antonio Candido não faz qualquer referência a alianças democráticas no Brasil; na verdade, trata de uma reorientação na literatura brasileira a partir da chamada Geração de 30 do Modernismo: "A partir de 1930 houve uma mudança de orientação, sobretudo na ficção regionalista (...)". 

d) Incorreta. O texto de Antonio Candido analisa a mudança de direção na literatura brasileira, a partir da chamada Geração de 30 do Modernismo, cujos autores demonstravam uma preocupação com os problemas sociais enfrentados no Brasil, ilustrados na prosa, por exemplo, nas obras regionalistas de Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz e José Lins do Rego. O "american way of life" (estilo de vida americano) caracteriza-se pelo consumismo e pela padronização social, aspectos muito distantes da literatura e do brasileiro da época. 

e) Incorreta. O Regionalismo foi um movimento do Modernismo brasileiro, cuja proposta literária se voltava para a valorização das raízes locais, abandonando, portanto, a visão eurocêntrica que realmente predominava na literatura brasileira na época do Romantismo. Por exemplo, na chamada Geração Indianista romântica, a figura do herói nacional, ainda que tentasse representar o índio, ainda se pautava nos valores europeizados dos cavaleiros medievais europeus.