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Questão 9 Unifesp 2025 - 1º dia

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Questão 9

Os sertões Pré-Modernismo Modernismo

É preciso ler esse livro singular sem a obsessão de enquadrá-lo em um determinado gênero literário, o que implicaria prejuízo paralisante. Ao contrário, a abertura a mais de uma perspectiva é o modo próprio de enfrentá-lo. A descrição minuciosa, pedantemente minuciosa, da terra, do homem e da luta situa essa obra, de pleno direito, no nível da cultura científica e histórica. Seu autor fez geografia humana e sociologia como um espírito atilado poderia fazê-lo no começo do século XX, em nosso meio intelectual, então avesso à observação demorada e à pesquisa pura. Situando a obra na evolução do pensamento brasileiro, diz lucidamente Antonio Candido: “Livro posto entre a literatura e a sociologia naturalista, essa obra assinala um fim e um começo: o fim do imperialismo literário, o começo da análise científica aplicada aos aspectos mais importantes da sociedade brasileira (no caso, as contradições contidas na diferença de cultura entre as regiões litorâneas e o interior).”

(Alfredo Bosi. O pré-modernismo, 1973. Adaptado.)

Tal comentário aplica-se à obra



a)

Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto.

b)

Os sertões, de Euclides da Cunha.

c)

Capitães da areia, de Jorge Amado.

d)

Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.

e)

Vidas secas, de Graciliano Ramos.

Resolução

a) Incorreta. “Morte e vida severina” é um texto teatral e poético pertencente à terceira geração do Modernismo. Escrito em meados do século XX, a obra ficcional aborda a luta de um retirante para sobreviver em busca de melhores condições de vida, migrando do sertão nordestino para a capital. Trata-se, assim, de uma obra que, embora apresente questões sociais, vale-se de uma linguagem poética. Portanto, esta obra não condiz com os elementos apontados no comentário de Alfredo Bosi.

b) Correta. A obra “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, foi publicada logo no início do século XX, em 1902. Trata-se de um dos principais livros do período denominado “pré-modernismo” (justamente o nome do texto de Alfredo Bosi de onde o comentário foi extraído), uma época de transição, em que ainda se observam resquícios das estéticas vigentes no fim do século XIX, mas surgem elementos que prenunciam o Modernismo no Brasil. Nesse sentido, a obra, conforme afirma Bosi, não pode ser enquadrada “em um determinado gênero literário”, e representa, conforme destaca Antônio Cândido, tanto “um fim” quanto “um começo”.

Além disso, ao afirmar que Euclides da Cunha recorre a uma “descrição minuciosa, pedantemente minuciosa, da terra, do homem e da luta”, Bosi faz menção às três partes que compõem o livro (“A terra”, “O homem” e “A luta”), ao longo das quais o autor se vale de uma linguagem técnica, científica e rebuscada para caracterizar a região de Canudos, no sertão baiano, e o povo que habitava tal região, para, a seguir, relatar os fatos que marcaram a chamada “Guerra de Canudos”, tema central do livro “Os Sertões”.

Dessa forma, a obra, ao mesmo tempo, enquadra-se “no nível da cultura científica e histórica”, e situa-se, como afirmado na citação de Antônio Cândido, “posto entre a literatura e a sociologia naturalista” (com forte influência do pensamento determinista).

Finalmente, vale ressaltar, ainda na citação de Cândido, a importância deste livro ao abordar as diferenças culturais entre as regiões litorâneas (que detinham o poder político, social e econômico) e a população abandonada pelo governo no interior do Brasil.

c) Incorreta. “Capitães da areia” é um romance da segunda geração do Modernismo no Brasil. Publicada em 1937, a história acompanha o cotidiano de vários menores abandonados, na cidade de Salvador, que recorrem à criminalidade para sobreviverem. Jorge Amado explora, em boa parte deste livro, uma linguagem próxima à oralidade para retratar o abandono e o descaso social em relação às crianças em situação de rua. Portanto, esta obra não condiz com os elementos apontados no comentário de Alfredo Bosi.

d) Incorreta.  “Grande sertão: veredas” é um romance publicado em 1956 e enquadra-se na terceira geração do Modernismo no Brasil. Nesse livro, observam-se várias características próprias da obra de Guimarães Rosa, como o “regionalismo universalizante” (uma narrativa que, embora explore aspectos da cultura típica do sertão mineiro, aborda temáticas universais), a prosa poética e a linguagem experimental, povoada de neologismos. Trata-se de um estilo peculiar que não condiz com as observações presentes no comentário de Alfredo Bosi.

e) Incorreta. “Vidas secas” é um romance pertencente à segunda geração do Modernismo brasileiro. Publicado em 1938, o livro traz uma família de retirantes que perambulam pelo sertão nordestino. Na obra, Graciliano Ramos, além de retratar questões sociais como a seca, a fome e a exploração, recorre ao fluxo de consciência e o discurso indireto livre como forma de investigação do mundo interno dos personagens. A linguagem é objetiva e incisiva, reforçando as condições de vida dos personagens. Deste modo, esta obra não condiz com os elementos apontados no comentário de Alfredo Bosi.