A imagem apresentada é uma propaganda vitoriana de sabão (Pears´ Soap). Ao analisá-la, Anne McClintock, historiadora zimbabuense-sul-africana, afirma que, no espelho do menino branco, “o menino negro testemunha seu destino predeterminado de metamorfose imperial, mas continua um híbrido racial passivo, parte branco, parte negro, levado à beira da civilização pelos fetiches mercantis gêmeos do sabão e do espelho”.
McCLINTOCK, Anne. Couro imperial. Raça, gênero e sexualidade no embate colonial. São Paulo: Editora da Unicamp, 2010. p.317.
A partir da análise da imagem e da leitura do excerto, responda:
a) Qual o fundamento pseudo-científico usado para justificar a eficácia do produto propagandeado?
b) Qual o significado das expressões “metamorfose imperial” e “híbrido racial passivo”?
c) Cite e explique um fator de tensão entre duas nações europeias que participaram da colonização da África do Sul.
a) Considerando os ideias racistas em vigor na época, de uma suposta "superioridade da raça branca" europeia sobre a "negra africana", o ideal pseudo-cientifico utilizado para justificar a eficácia do produto em questão é a “purificação racial”, ou seja, a possibilidade de que um menino negro pudesse embranquecer utilizando o produto e de que tal mudança física o levaria a "evoluir racialmente".
b) A “metamorfose imperial” seria a crença de que o império britânico, calcado justamente no ideal de ser branco e "racialmente superior", realizaria uma transformação na África, também a embranquecendo. Porém, tais promessas não se realizaram integralmente, uma vez que o menino mesmo após ter utilizado o produto do colonizador, ainda permaneceu parcialmente negro. Ou seja, embora a periferia tenha tipo aceso aos “produtos civilizados” dos europeus, seus habitantes ainda estariam marcados pela mistura racial e permaneceriam “híbridos raciais passivos”, sem muito o que fazer para mudar esse destino.
c) Na região do sul da África houve forte presença holandesa, que foi responsável pela fundação da Cidade do Cabo em 1652, depois tomada pelos ingleses em 1806, além de uma forte presença portuguesa. As riquezas advindas dessa região geraram muitas disputas entre as nações europeias. Ao longo do século 19, houve forte migração de europeus brancos para essa região, chamados de bôeres ("fazendeiro", em holandês), fato que levou a fundação dos Estados de Orange e Transvaal, onde se localizavam grandes reservas de ouro e diamantes. Logo os britânicos se interessaram por essas riquezas e tentaram anexar esses Estados durante a Primeira Guerra dos Bôeres (1880-1881), sendo derrotados. Porém, em 1899, houve nova investida inglesa, na chamada Segunda Guerra dos Bôeres, finalmente vencida pelos britânicos em 1902, que assim se apoderaram daqueles recursos e puderam criar a União Sul-Africana (1910).