“Multiplicam-se as situações em que dizem, no Brasil, que vai mal a língua portuguesa. Irá mal, de fato, o vernáculo no Brasil? Claro que não. Vai muito mal a expectativa de alguns, até numerosos, sem dúvida, que, desligados da realidade da nação brasileira, desejam recuperar algo que nunca fomos e, por isso, não assumem de fato o que nos legou e lega a nossa própria história.”
SILVA, Rosa Virgínia Mattos e. O português são dois: novas fronteiras, velhos problemas. São Paulo, Parábola, 2004, p.11.
a) O texto contrapõe dois posicionamentos sobre o uso da língua portuguesa no Brasil. Quais são eles?
b) Qual o efeito expressivo que a autora obtém ao optar pela inversão sintática em “irá mal, de fato, o vernáculo no Brasil”?
a) O texto apresenta, primeiramente, o posicionamento daqueles que acreditam "ir mal" a língua portuguesa. São figuras que, segundo a autora, estão desconectadas da realidade brasileira e que intentam recuperar uma idealização da língua completamente inexistente e desvinculada do que a própria história legou aos falantes. Trata-se, assim, de uma visão pessimista a qual sugere haver certa decadência no uso da língua. Esse posicionamento é contraposto à visão da autora, que refuta tal modo de pensar, afirmando que vai mal "a expectativa de alguns" e argumentando, pelas negativas, ser necessário assumir o legado deixado pela história. Desse modo, ela critica a tentativa de se buscar uma perfeição linguística ou uma idealização da língua que nunca existiu, já que a língua portuguesa no Brasil é parte de uma realidade histórica e cultural própria.
b) A inversão sintática ou hipérbato confere ênfase e expressividade à frase ao alterar a ordem direta (sujeito + verbo + complementos) para uma construção mais sofisticada e formal (verbo + complementos + sujeito). Ao utilizar esse dispositivo, o termo que foi deslocado para o início da sentença "irá mal” ganha destaque ampliado, valorizando a provocação e acentuando o questionamento da autora por chamar a atenção para o núcleo da crítica. Tais fatores se associam ao instrumento retórico de se questionar o leitor, intensificando o tom irônico e crítico do texto, pois Silva sugere que a afirmação de que “o vernáculo vai mal” é absurda ou infundada, convidando o leitor a refletir sobre essa visão saudosista.