“São os ratos!... Vai escutar com atenção, a respiração meio parada. Hão de ser muitos: há várias fontes daquele guinchinho, e de quando em quando, no forro, em vários pontos, o rufar...
A casa está cheia de ratos...”
Dyonélio Machado. Os ratos.
A obra Os ratos (1935), de Dyonélio Machado, narra o dia em que Naziazeno saiu pela cidade de Porto Alegre no intuito de conseguir dinheiro para pagar a conta do leiteiro. Os animais que dão título à narrativa apenas aparecem em seus últimos capítulos e ocupam o tempo reservado para o descanso do protagonista. É possível, então, afirmar:
a) |
Naziazeno, inconformado com sua condição de devedor, perambula pela cidade, encontrando refúgio junto aos ratos que o acolhem. |
b) |
Os ratos são os credores de Naziazeno zoomorfizados, que se encontram à espreita para a cobrança de outras dívidas. |
c) |
Os “guinchinhos”, que ressoam nos ouvidos de Naziazeno, são o eco de seu dia de perambulação, como se lembrassem os obstáculos que venceu. |
d) |
Os ruídos dos roedores mostram que Naziazeno, ao pagar a sua dívida, esquece os obstáculos que venceu. |
e) |
O contraste entre o repouso de Naziazeno e o aparecimento dos roedores denuncia a permanência da sua situação de penúria social e financeira. |
a) Incorreta. A imagem dos ratos é causadora de angústias para Naziazeno, de modo que não é coerente considerar que esses animais poderiam oferecer refúgio ou acolhimento a ele.
b) Incorreta. Naziazeno imagina ouvir os ratos se movimentando na cozinha e roendo o dinheiro deixado sobre a mesa. Para o personagem, esses animais são reais e ele não os vê como um símbolo zoomorfizado de outros credores vindo lhe cobrar as dívidas.
c) Incorreta. Os ratos podem ser compreendidos como um símbolo de sua situação de marginalização social e carência financeira e recordam as futuras carências e necessidades que ele ainda vai enfrentar. Nesse sentido, é incoerente com a leitura geral do romance considerar que ter conseguido o dinheiro do leiteiro signifique a superação dos obstáculos.
d) Incorreta. Os ratos reforçam a apreensão do personagem, fazendo-o reviver as angústias experimentadas ao longo do dia. Considerando o percurso de Naziazeno, é incorreto considerar que ele tenha vencido os obstáculos ou que ele os tenha esquecido.
e) Correta. De fato, os ratos, referidos no título, aparecem no romance somente nos capítulos finais quando Naziazeno, abalado psicologicamente pelas angústias que vivera ao longo do dia em busca de dinheiro, não consegue dormir e é acometido por delírios e alucinações. Não conseguindo distinguir sonho e realidade, ele imagina ouvir os ratos tomando a cozinha e roendo o dinheiro que havia deixado para o leiteiro. Dessa forma, ele revive o desespero que havia experimentado anteriormente. Ter conseguido resolver seu problema imediato – pagar a dívida com o leiteiro – não anulou a situação de penúria social e financeira do personagem. Nesse sentido, os ratos podem ser compreendidos como um símbolo das futuras necessidades e carências que o personagem deverá enfrentar.