Leia o excerto a seguir de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Max Weber.
“Temos de nos emancipar da seguinte visão: que se pode deduzir a Reforma das transformações econômicas como algo ‘necessário em termos de desenvolvimento histórico’. Por outro lado, não se deve de forma alguma defender uma tese tão disparatadamente doutrinária que afirmasse que o ‘espírito capitalista’ pôde surgir somente como resultado de determinados influxos da Reforma.
Em face da enorme barafunda de influxos recíprocos entre as bases materiais, as formas de organização social e política e o conteúdo espiritual das épocas culturais da Reforma, procederemos tão-só de modo a examinar de perto se, e em quais pontos, podemos reconhecer determinadas ‘afinidades eletivas’ entre certas formas da fé religiosa e certas formas da ética profissional. Por esse meio serão elucidados o efeito que, em virtude de tais afinidades eletivas, o movimento religioso exerceu sobre o desenvolvimento da cultura material.”
WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p.82-83 (Adaptado).
A partir da ideia expressa no excerto acerca da relação entre o desenvolvimento do capitalismo e alguns elementos da doutrina calvinista, é correto afirmar que
a) |
as ideias calvinistas impulsionaram o capitalismo e levaram os comerciantes germânicos a buscar a acumulação irrestrita de capitais. |
b) |
o crescimento acelerado dos mercados consumidores facilitou, no século XVI, a aceitação das ideias calvinistas pelos banqueiros e negociantes europeus. |
c) |
as condições materiais, sociais e políticas da Europa Central contribuíram, no século XVI, para a expansão do capitalismo e para a repressão do calvinismo. |
d) |
a união entre os comerciantes contra o Sacro Império Romano Germânico e contra o Papado determinou a adoção de práticas capitalistas e calvinistas na Europa medieval. |
e) |
a defesa calvinista do trabalho árduo e o estímulo ao comportamento austero do crente tiveram impactos positivos na formação de condutas adequadas ao desenvolvimento do capitalismo. |
Na obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Weber argumenta que o comportamento austero adotado pelos fiéis do protestantismo calvinista, influenciado pela Teoria da Predestinação, foi decisivo para o processo de racionalização da economia e para o acúmulo de capital, sendo, portanto, fundamental para a consolidação do capitalismo.
a) Incorreta. A teoria da predestinação defendida pelos calvinistas enfatizava a importância do trabalho árduo e da disciplina, além de sugerir que os fiéis deveriam se abster de atividades pecaminosas. Isso levou muitos deles a acumular capital por meio de seus negócios. Contudo, o protestantismo calvinista não promovia um discurso de acúmulo irrestrito de capital.
b) Incorreta. Não corresponde às teses de Weber, pois ele não argumenta que o crescimento dos mercados consumidores tenha sido o fator que facilitou a aceitação do calvinismo, mas sim que a ética calvinista foi compatível com o desenvolvimento do capitalismo.
c) Incorreta. Para Weber, o capitalismo se desenvolveu devido a um comportamento econômico mais racional adotado pelos fiéis do protestantismo calvinista, e não por conta de qualquer repressão ao calvinismo.
d) Incorreta. Não há ênfase na união entre comerciantes contra o Sacro Império Romano Germânico e o Papado como fator determinante para a adoção de práticas capitalistas e calvinistas, segundo Weber. A análise de Weber foca na relação entre a ética calvinista e a mentalidade propícia ao capitalismo, não em conflitos políticos.
e) Correta. Weber indica que o protestantismo calvinista desenvolveu entre os fiéis um tipo de comportamento que favoreceu o desenvolvimento do capitalismo, principalmente por meio da ênfase no trabalho disciplinado, na racionalização das atividades econômicas e na busca pelo sucesso material dentro dos limites da moralidade religiosa.