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Questão 82 Fuvest 2025 - 1ª fase

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Questão 82

Quincas Borba A ilustre casa de Ramires

Mais de uma vez, o brasileiro Machado de Assis e o português Eça de Queirós foram aproximados porque traçaram linhas de compreensão das suas respectivas sociedades, em um mesmo tempo historicamente situado. Os protagonistas Rubião, de Quincas Borba (1891), e Gonçalo, de A Ilustre Casa de Ramires (1900),



a)

representam, respectivamente, a ascensão política da burguesia brasileira durante a segunda metade do século XIX e a decadência da aristocracia portuguesa no mesmo período.

b)

têm suas aspirações de grandeza e reconhecimento social frustradas diretamente pelo envolvimento de ambos com as políticas partidárias nacionais, introduzindo reformas substanciais que alteram a situação periférica de cada país.

c)

buscam reconhecimento social, continuamente frustrados nesse propósito por se inserirem em meios sociais que privilegiam a grandeza moral e as virtudes humanas.

d)

comprometem-se com a superação dos atrasos civilizacionais de seus países. Apesar de terem destinos diferentes, confrontam-se com o descompromisso de suas respectivas sociedades quanto às transformações sociais e econômicas.

e)

são vítimas de suas ideias ambiciosas de modernização nacional, seja por Rubião promover ideias políticas “modernas”, seja por Gonçalo insistir na restauração da grandeza de sua família. Ao final, atingem seus objetivos.

Resolução Sugerimos anulação

a) Incorreta. A consideração de que Rubião representa a ascensão política da burguesia brasileira durante a segunda metade do século XIX apresenta dois equívocos. Primeiramente, Rubião não pode ser considerado um representante da burguesia, pois, ao contrário do casal Palha, ele não domina os códigos e os comportamentos que distinguem essa classe. Rubião só ascende socialmente em virtude da herança recebida de Quincas Borba, mas ele se insere superficialmente na nova realidade social, não incorporando os valores da burguesia. O segundo motivo é que o personagem não apresentou nenhum projeto que evidenciasse ambições de ascensão política. Ter participado de reuniões de partidos políticos e contribuído financeiramente com a imprensa são episódios muito frágeis para sustentar a ideia de “ascensão política da burguesia”. Com relação ao romance de Eça de Queirós, é possível considerar que, no início da narrativa, Gonçalo Ramires representa a decadência da aristocracia rural portuguesa, mas, no decorrer do enredo, o personagem consegue ascender politicamente, tornando-se deputado e, posteriormente, ao renunciar ao cargo político, ele se engaja, com sucesso, em um projeto econômico de exploração das colônias portuguesas na África. Ou seja, o protagonista encontra meios para superar a situação inicial de decadência.

b) Incorreta. De fato, Rubião tem suas aspirações de grandeza e reconhecimento social frustradas, chegando a perder sua fortuna e enlouquecer, mas o mesmo não ocorre com Gonçalo Ramires, que ascende politica e economicamente. Nenhum dos dois personagens apresenta projetos de reformas substanciais para alterar a situação periférica de seus respectivos países, visto que Rubião preocupa-se apenas consigo mesmo e com sua paixão por Sofia, enquanto Gonçalo visa somente ao poder e ao lucro.

c) Incorreta. De fato, à sua maneira, ambos os personagens buscam reconhecimento social: Rubião fracassa e Gonçalo Ramires triunfa. Entretanto, é incoerente considerar que os meios sociais representados nos dois romances privilegiam a grandeza moral e as virtudes humanas, pois, em “Quincas Borba”, prevalece a lógica da competição e do egoísmo, enquanto em “A ilustre casa de Ramires”, a sociedade é moldada pelo jogo de aparências, sucumbindo às manipulações de um oportunista como Gonçalo Ramires.

d) Incorreta. Nenhum dos protagonistas dos romances em questão se compromete com a superação dos atrasos civilizacionais de seus países. Rubião, um provinciano alçado à condição de homem rico, procura inserir-se, sem sucesso, no meio social da corte. Ele acredita que irá “conquistar as batatas”, ou seja, obter prestígio e reconhecimento, mas é devorado por amigos interesseiros e calculistas. Movido pela paixão por Sofia, que o ilude com falsas esperanças, o personagem não enxerga as manipulações do Palha e é destituído de tudo o que possui. Em sua trajetória, Rubião jamais se comprometeu com qualquer proposta coletiva que ultrapassasse seus interesses imediatos. Gonçalo Ramires, por sua vez, estava mais preocupado com sua ascensão política e econômica, usando a novela “A Torre de Dom Ramires” como um meio de ganhar fama e, assim, alavancar sua candidatura para deputado. Seu discurso demagógico conquistou os eleitores, mas ele nunca se comprometeu de fato com a superação do atraso de Portugal, visto que, uma vez eleito, ele renuncia ao cargo em nome de um projeto de exploração das colônias portuguesas na África. Por mais que tal projeto se assentasse num discurso de base nacionalista, o personagem visava apenas ao próprio enriquecimento, tornando-se membro de uma classe burguesa colonialista pouco preocupada com a superação dos problemas de seu próprio país. Considerando os dois romances, não apenas as sociedades representadas, como também os próprios protagonistas, não apresentavam qualquer compromisso em relação às transformações sociais e econômicas de seus respectivos países.

e) Incorreta. Rubião não promove ideias políticas modernas, pelo contrário, em sua loucura, ele se imagina como o imperador Napoleão III, personagem histórico que, por meio de um golpe de estado, torna-se imperador da França no ano de 1851. Gonçalo Ramires insiste na restauração da grandeza de sua família, afirmando a grandeza do passado a partir da valorização de uma aristocracia rural e da celebração dos feitos de um antepassado medieval, o que também destoa da ideia de modernização nacional.

Tendo em vista que nenhuma das alternativas apresentadas contempla adequadamente os romances analisados, propomos a anulação da questão.