“Se a derrama for lançada,
há levante, com certeza.
Corre-se por essas ruas?
Corta-se alguma cabeça?
Do cimo de alguma escada,
profere-se alguma arenga?
Que bandeira se desdobra?
Com que figura ou legenda?
Coisas da Maçonaria,
do Paganismo ou da Igreja?
A Santíssima Trindade?
Um gênio a quebrar algemas?
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem,
acontece a Inconfidência.”
Os versos de Cecília Meireles, no Romanceiro da Inconfidência, remetem
a) |
à insurreição promovida por maçons e reinóis, adeptos do iluminismo, contra a cobrança do quinto real sobre a exploração de diamantes na Capitania de Minas Gerais. |
b) |
à possibilidade de sublevação motivada pela defesa da liberdade, por indivíduos de diferentes setores de Minas Gerais, ante a ameaça de cobrança de impostos metropolitanos. |
c) |
à disputa entre católicos apoiadores do recolhimento do dízimo nas Minas Gerais e republicanos defensores da suspensão de impostos cobrados pelo Estado e pela Igreja. |
d) |
ao movimento de setores reacionários da sociedade mineira, responsáveis por conspirar contra os idealizadores da Conjuração e denunciar os seus planos de revolução. |
e) |
à trapaça e delação, que fizeram parte da Conjuração e ocorreram em razão das discrepâncias ideológicas dos denunciantes em relação aos rebelados. |
a) Incorreta. A alternativa aborda alguns elementos presentes na Inconfidência - ou Conjuração - Mineira, como a participação de maçons e a insatisfação com a cobrança de impostos. No entanto, ela simplifica a complexidade do movimento ao destacar apenas a questão dos diamantes e a participação de reinóis. Embora a extração de diamantes também fosse sujeita ao controle da Coroa, o minério que mais se destacava em toda o imbróglio da Conjuração era o ouro. Já a participação de reinóis - como se designavam os originários do Reino de Portugal - não era central para a rebelião, já que a maioria dos rebeldes era de colonos brasileiros.
b) Correta. A alternativa aborda a defesa da liberdade como um dos principais motivadores da Inconfidência, sendo que a leitura iluminista do conceito de liberdade política e econômica era bastante popular entre os conjurados. Também se menciona a participação de diversos setores da sociedade mineira, o que corresponde de maneira correta ao painel dos revoltosos, que, embora fossem na maioria membros da elite mineira, contavam entre seus participantes com membros da classe média e clérigos, por exemplo. Já a ameaça da cobrança de impostos, principalmente com a possibilidade de se decretar a Derrama - cobrança forçada feita por meio do confisco de bens - foi um dos principais gatilhos para a costura da revolta.
c) Incorreta. A alternativa estabelece uma falsa divisão entre católicos e republicanos (diversos participantes da revolta, que possuía caráter republicano, eram católicos, alguns inclusive eram membros do clero), além de simplificar a questão dos impostos, levantando uma simples possibilidade de suspensão, quando a discussão era mais complexa e envolvia a possibilidade de estabelecimento de uma racionalidade fiscal na cobrança dos tributos. Dessa forma, podemos dizer que a Inconfidência não se resumia a uma disputa religiosa, mas sim a um movimento mais amplo por mudanças políticas.
d) Incorreta. Os versos de Cecília Meireles retratam a expectativa e a esperança dos conspiradores, não a ação de setores reacionários, que, no contexto histórico da obra literária citada, seriam contrários às mudanças propostas pelos conjurados. A delação e a traição são temas presentes nos versos de Meireles e no processo histórico da Inconfidência, já que os planos de revolta foram desbaratados pela delação de alguns de seus participantes, mas não são o foco principal do trecho destacado.
e) Incorreta. A alternativa aborda um aspecto importante da Inconfidência, mas não captura a amplitude dos temas presentes no Romanceiro da Inconfidência. A poetisa destaca a expectativa pela ação, a busca por um símbolo unificador e a atmosfera de sigilo e espionagem, elementos que vão além da questão da traição, e se concentram mais no planejamento da revolta, que se deu em sigilo para não despertar a atenção das autoridades portuguesas.