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Questão 30 Unesp 2025 - 2ª fase

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Questão 30

hipérbole Derivação

Para responder às questões, leia o trecho do ensaio “O eterno retorno do mesmo: tese cosmológica ou imperativo ético?” da filósofa brasileira Scarlett Marton.

E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de retornar, e tudo na mesma ordem e sequência — e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez — e tu com ela, poeirinha da poeira!” — Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: “Tu és um deus, e nunca ouvi nada mais divino!”.

Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse; a pergunta, diante de tudo e de cada coisa: “Quero isto ainda uma vez e ainda inúmeras vezes?” pesaria como o mais pesado dos pesos sobre teu agir! Ou então, como terias de ficar de bem contigo mesmo e com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?

Assim escreve Nietzsche na Gaia ciência. É na forma de um desafio que introduz, em sua obra, a ideia do eterno retorno. Ao enunciar o que ele mesmo pensa a respeito, toca em dois pontos que se tornarão recorrentes em seus textos: a repetição dos acontecimentos e o movimento circular em que a mesma série de eventos ocorre. “O mais pesado dos pesos”, título do aforismo de Nietzsche, diz respeito às consequências psicológicas que o pensamento do eterno retorno pode acarretar. Afinal, o que ele provocaria em nós? Constituiria motivo de júbilo ou razão de desespero? Diante dele, como nos comportaríamos? Nós nos lançaríamos ao chão e rangeríamos os dentes? Ou abençoaríamos como portador da boa nova quem dele nos falasse? Mas qualquer atitude que viéssemos a adotar não nos libertaria do fardo que, desde então, pesaria sobre nosso agir.

(Adauto Novaes (org.). Ética, 2007. Adaptado.)


a) Que verbo empregado no segundo parágrafo pode ser considerado uma hipérbole? Justifique sua resposta.

b) As palavras podem mudar de classe gramatical sem sofrer modificação na forma. A este processo de enriquecimento vocabular pela mudança de classe das palavras dá-se o nome de “derivação imprópria”.

(Celso Cunha. Gramática essencial, 2013. Adaptado.)

Cite um exemplo de derivação imprópria que ocorre no segundo parágrafo. Justifique sua resposta.



Resolução

a) No segundo parágrafo, pode ser observada o uso da hipérbole por meio da forma verbal “triturasse”. Essa figura de linguagem consiste no exagero proposital com a finalidade de obter o efeito de sentido desejado pelo enunciador. No caso de “triturasse”, o exagero teve como finalidade indicar o quão transformador seria se o ser humano passasse a enxergar que os acontecimentos vão e sempre retornam, na mesma ordem e sequência. A transformação – no caso – seria tanta, que o ser humano seria “triturado” e refaria por completo a sua visão em relação aos eventos que ocorrem durante sua existência.

b) No segundo parágrafo, a derivação imprópria ocorre com a palavra “agir”, no trecho “pesaria como o mais pesado dos pesos sobre teu agir”. Isso pode ser comprovado, porque tal palavra – que originalmente deve ser classificada como verbo – foi utilizada como um substantivo. Esse processo de substantivação pode ser observado pela maneira como a palavra foi usada no texto: ela aparece após o pronome possessivo “teu”, assumindo, portanto, papel de substantivo, e não mais de verbo.