Analise a imagem e leia o excerto.
(www.museicapitolini.org)
Mesmo hoje, a imagem de uma loba amamentando o bebê Rômulo e seu irmão gêmeo Remo simboliza as origens de Roma. A famosa estátua de bronze da cena é uma das obras mais copiadas e instantaneamente reconhecíveis da arte romana, estampada em milhares de cartões-postais e suvenires, e presente por toda a cidade atual como o emblema do time de futebol Roma.
Com essa imagem tão familiar, é fácil aceitar sem quaisquer restrições a história de Remo e Rômulo [...], e esquecer que se trata de uma das mais antigas “lendas históricas” da fundação de qualquer cidade em qualquer era e em qualquer lugar do mundo. E, sem dúvida, trata-se de um mito ou de uma lenda, mesmo que os romanos a vejam, em termos amplos, como história.
(Mary Beard. SPQR: uma história da Roma Antiga, 2017.)
a) Como um mito ou uma lenda se relacionam ao estudo da história?
b) A partir da imagem e do excerto, explique a frase “trata-se de um mito ou de uma lenda, mesmo que os romanos a vejam, em termos amplos, como história” (2o parágrafo).
a) Mitos e lendas são fontes indispensáveis para o estudo histórico, mesmo que não sejam registros factuais de eventos. Eles refletem as visões de mundo, os valores morais, religiosos e culturais das sociedades que os criaram. Através dessas narrativas, os historiadores podem compreender como as civilizações estruturavam sua identidade, justificavam suas instituições e transmitiam ideais às gerações futuras.
No caso específico de Roma, a lenda de Rômulo e Remo está carregada de simbolismos que reforçam valores fundamentais da cultura romana, como a coragem, a luta pela sobrevivência e a crença em uma origem divina. A figura da loba que protege e alimenta os gêmeos abandona o papel de mero animal para se transformar em um símbolo de acolhimento e força, representando a própria cidade de Roma como uma entidade protetora e poderosa.
Embora mitos não sejam fontes históricas diretas, eles revelam aspectos cruciais sobre a mentalidade de uma época e ajudam a entender como as sociedades explicavam fenômenos que escapavam à racionalidade, como suas origens ou seu destino. Dessa forma, mitos como o de Rômulo e Remo conectam elementos históricos e culturais, permitindo uma análise mais profunda das civilizações.
b) A frase destaca a dualidade entre a visão simbólica e histórica da lenda de Rômulo e Remo. Do ponto de vista moderno, é um mito, pois carece de evidências factuais e pertence ao imaginário coletivo. Contudo, para os romanos, ela era amplamente aceita como verdade histórica porque cumpria uma função essencial: explicava e legitimava a fundação de Roma como um evento extraordinário e sagrado.
Na narrativa, Rômulo e Remo são filhos do deus Marte, representando uma origem divina que os elevava acima de meros mortais. A imagem da loba, que os alimenta e os protege, reforça a ideia de que Roma nasceu sob uma intervenção especial, predestinada à grandeza. Para os romanos, essa história não era apenas um relato mítico, mas uma forma de consolidar sua identidade, justificando seu papel central no mundo antigo e seu direito à expansão e hegemonia.
A lenda funcionava também como um instrumento político e cultural. Ela transmitia valores fundamentais à sociedade romana, como a resiliência, o heroísmo e a superação, além de criar um vínculo emocional e ideológico entre os cidadãos e a cidade. Ao perpetuar essa narrativa por meio de obras de arte, como a estátua da loba capitolina, os romanos reforçavam sua visão de um passado glorioso que justificava tanto o presente quanto o futuro de Roma.
Assim, embora a história seja, para os padrões modernos, um mito, ela se tornou um elemento crucial na construção da memória e da identidade romanas, funcionando como uma verdade simbólica que transcendeu os limites da realidade factual.