Questão 3 Unesp 2025 - 2ª fase
Cerimônias cívicas foram realizadas a partir de meados da década [de 1930] e forneceram importantes pistas a respeito das questões políticas e ideológicas em jogo. Uma delas, a cerimônia cívica referente ao Dia da Bandeira após a decretação do Estado Novo [1937], foi exemplar. [...] Logo após a chegada do chefe da nação ao evento, teve lugar uma missa campal celebrada pelo cardeal Leme com a presença de irmandades e congregações católicas [...].
As bandeiras estaduais hasteadas em 21 mastros foram retiradas por crianças das escolas públicas e substituídas pela bandeira nacional. As bandeiras estaduais foram queimadas em uma grande pira sob o som do Hino Nacional, entoado por coro de canto orfeônico regido por [Heitor] Villa-Lobos.
(Lúcia Maria Lippi Oliveira. “Os caminhos da centralização”. In: Edmar Bacha et al. (orgs.). 130 anos: em busca da República, 2019.)
a) Cite dois elementos da cerimônia relatada no excerto que podem ser considerados característicos do Estado Novo (1937-1945).
b) Identifique a simbologia do ritual mencionado no segundo parágrafo do excerto e explique sua relação com as mudanças políticas que o Brasil viveu após a chegada de Getúlio Vargas ao poder, em 1930.
a) A própria realização do evento referido pelo excerto ressalta uma característica muito marcante do Estado Novo (1937-1945) que era justamente a existência de inúmeras cerimônias ou festividades públicas, como por exemplo a do dia do trabalho (1/5), da independência, da república ou da bandeira. Nesses eventos, além de se valorizar algum aspecto político ou da história do Brasil que interessasse ao Estado Novo, se reforçava a própria figura do líder, Getúlio Vargas. Por fim, o fato relatado pelo texto reflete, justamente pela referência a bandeira nacional, o nacionalismo exercido por Getúlio Vargas no período de seu governo.
b) A principal simbologia existente na cerimônia descrita no segundo parágrafo estava na questão do sentimento nacional se sobrepor aos interesses regionais dos estados que compunham a União. No caso da cerimônia em questão, também é possível afirmar que a participação de crianças pertencentes as escolas públicas ressaltava o papel da educação na difusão desses sentimento e que as crianças seriam educadas já dentro desse novo paradigma. Outro aspecto importante é que intelectuais e artistas de renome seriam mobilizados para esse propósito e a presença de Heitor Villa-Lobos na regência musical da cerimônia é muito importante nesse aspecto. Por fim, podemos identificar uma grande alteração da política brasileira com o advento da Era Vargas (1930-1945), pois o período anterior, da chamada Primeira República (1889-1930) foi marcado pelo domínio das oligarquias estaduais, que fraudavam as eleições para se perpetuarem no poder. Em 1932, já durante o governo provisório (1930-1934) houve um levante paulista contra Getúlio, também conhecido como Revolução Constitucionalista de 1932, que marcou a última tentativa da oligarquia paulista de retomar o poder. A cerimônia em questão, marca justamente a superação dos valores regionais, simbolizado pela queima das bandeiras estaduais e a valorização da nação, com o surgimento da bandeira nacional como o único símbolo do Brasil.