O que chamamos arte não mais nos demanda contemplação, mas sim reflexão sobre o sentido da palavra “arte”. Ou seja, o valor “arte” deserta o objeto para se ancorar no discurso de um indivíduo que se declara artista e que declara algo, uma ação, uma instrução, um ritual — não importa — como “arte”. Nesse momento, importam menos as qualidades intrínsecas (linhas, planos, luminosidade, textura etc.) desse objeto do que reconstituir um questionamento que nos convida à reflexão. [...] o artista não pode mais ser reconhecido por suas habilidades técnicas, mas sim porque se instala no centro de uma rede de discursos, ele mesmo assumindo o discurso sobre sua obra/fazer.
(Luzia Gontijo Rodrigues. “A arte para além da estética: arte contemporânea e o discurso dos artistas”. Artefilosofia, 2008.)
Considerando o objeto referido no excerto, a mudança na concepção de arte, mencionada pela autora, corresponde
a) |
ao status artístico definido por museus e galerias. |
b) |
à submissão da arte a fins políticos e teológicos. |
c) |
à importância do processo manual no modo de fazer artesanal. |
d) |
à qualidade dos materiais utilizados na confecção da obra. |
e) |
ao conceito elaborado pelo artista sobre sua produção. |
a) Incorreta. O texto apresentado na questão discute a mudança na compreensão do que pode ser considerado "arte". Em nenhum momento, porém, o texto menciona museus e galerias como responsáveis pela legitimação de objetos como arte. Portanto, qualquer associação entre o texto e essa ideia é incorreta.
b) Incorreta. Como mencionado nos comentários da alternativa A, o texto trata das mudanças na compreensão da arte, destacando a evolução de sua definição ao longo do tempo. Dessa forma, não há qualquer relação com a submissão da arte a temas políticos ou teológicos, uma vez que o foco do texto está na transformação do entendimento sobre o que constitui uma obra artística, sem se restringir a essas influências.
c) Incorreta. O processo manual desempenhou um papel crucial nas práticas artísticas anteriores à contemporaneidade. No entanto, o texto não enfatiza essa importância do fazer manual, mas sim a transformação que ocorreu com a arte contemporânea, onde a ênfase passou a ser na concepção e no conceito por trás da obra, em detrimento do processo artesanal e técnico.
d) Incorreta. Em nenhum momento o texto aborda questões relacionadas às qualidades dos materiais utilizados nas práticas artísticas. O foco, como mencionado anteriormente, está na transformação da arte, que passou de uma valorização predominante da técnica e habilidade manual para uma ênfase maior no conceito e nas ideias que fundamentam as obras.
e) Correta. No contexto abordado no texto, artistas e críticos passaram a defender uma concepção de arte que transcende o mero fazer artístico, propondo uma ruptura com as limitações dos materiais tradicionais utilizados desde a antiguidade. Sob essa perspectiva, emergiram novas linguagens artísticas que priorizam o jogo de ideias e a reflexão, em vez de se concentrarem exclusivamente nas habilidades técnicas e na estética sensorial. Assim, a alternativa é correta, pois reflete essa abordagem em que os artistas dão ênfase à elaboração conceitual de suas obras.