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Questão 86 Unicamp 2020 - 1ª fase

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Questão 86

Período Joanino Absolutismo

Jean-Baptiste Debret, Retrato de
El Rei Dom João VI, 1817.
Museu Nacional de Belas Artes,
Rio de Janeiro.

Hyacinthe Rigaud, Retrato de
Luís XIV, 1701. Museu do Louvre,Paris.

A partir das fontes visuais reproduzidas e de seus conhecimentos, assinale a alternativa correta.



a)

A única monarquia americana precisou afirmar a figura do governante e sua memória política, recorrendo à imagética da autoridade real francesa do Antigo Regime. Este mecanismo foi enaltecido pela imprensa do liberalismo constitucional.

b)

Debret usou o quadro de Rigaud como referência visual e preparou retratos em seu estúdio no Rio de Janeiro. Isto era importante, pois a autoridade monárquica joanina assentou-se na liturgia política e no pouco uso da violência.

c)

O retrato de D. João não foi pintado para ser exposto, embora existisse no Rio de Janeiro da época um circuito expositivo de salões de belas artes, pinacotecas, museus, onde pudesse ser visto. Tais espaços foram renomeados na República.

d)

O projeto de europeização da corte do Rio de Janeiro e a necessidade de afirmar a autoridade de D. João VI levaram a uma política de fomento à imagética do poder baseada, aqui, na da monarquia francesa.

Resolução

A questão apresenta duas imagens para análise do candidato: o Retrato de El Rei Dom João VI, pintura de 1817, realizada pelo artista francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848)e o Retrato de Luís XIV, quadro de 1701, do também francês Hyacinthe Rigaud (1659-1743). Ambas retratam monarcas europeus, o rei D. João VI, de Portugal e do Brasil; e o rei francês Luís XIV, considerado o símbolo máximo do absolutismo monárquico. Comparando-se os dois quadros, podemos afirmar que há semelhanças estilísticas e temáticas entre eles, com Debret idealizando sua obra remetendo diretamente à imagética do absolutismo francês e os signifcados que esse tipo de imagem pode carregar. Elementos como a bengala, a coroa e a espada aparecem nas duas obras, confirmando a inspiração de Debret no retrato de Luís XIV, retrato esse que inspirou também outros quadros de monarcas europeus, como o Retrato de Luís XVI, pintado por Antoine Callet (1741-1823) aproximadamente em 1779.

a) Incorreta. A conexão entre a imagética do Antigo Regime e a representação do monarca português - e que na época de pintura do retrato vivia no Brasil, elevado ao estatuto de Reino Unido com Portugal - existiu e foi utilizada como forma de legitimação do poder de D. João. Porém, essa estratégia não foi enaltecida pela imprensa liberal. O liberalismo era grande crítico dos pressupostos absolutistas, tanto que a própria monarquia portuguesa foi bastante modificada após uma revolta liberal, a Revolução do Porto, ocorrida em 1820, que tornou Portugal uma monarquia constitucional, fazendo com que o poder real fosse equilibrado pelo poder das Cortes, o parlamento do país.

b) Incorreta. Pode-se afirmar que o quadro de Rigaud serviu como referência a Debret, e outros retratos foram pintados pelo artista em seu estúdio em terras brasileiras, como o Retrato de D. Pedro I, de 1826. Porém, a autoridade política do governo joanino não se assentou apenas em uma liturgia política, mas também em uso da violência estatal, como podemos notar na repressão à Revolução Pernambucana de 1817 e a anexação da Província Cisplatina ao território brasileiro, em 1821.

c) Incorreta. O retrato não possuía o objetivo de servir à exposição pública no momento de sua feitura, tendo sido transferido para o acervo Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, em 1937, ano em que o museu foi oficialmente criado. Seu pintor, Jean-Baptiste Debret, fazia parte da expedição artística que veio ao Brasil, em 1816, após a chegada da família real portuguesa em terras americanas, em 1808. Debret foi também um dos responsáveis pelo estabelecimento de uma Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro e pela organização de algumas exposições artísticas. Porém, retratos como esse eram comumente encontrados em acervos particulares e não ainda em museus e pinacotecas, lógica que mudaria ao longo do século XIX. Em 1818, o próprio D. João VI fundou o Museu Nacional, instituição que manteve seu nome durante a República e que foi assolada por um incêndio em 2018.

d) Correta. O modelo europeu de cultura adotado pela corte do Rio de Janeiro, juntamente com um projeto político de construir uma imagem de autoridade para D. João VI, formaram uma dinâmica de divulgação da imagem do monarca atrelada aos pressupostos culturais, artísticos e políticos europeus. Em uma corte eurocêntrica, a forma mais eficiente de construir respeito e vulto ao governante do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve seria ligá-lo ao retrato mais conhecido de um soberano europeu, no caso, aquele que melhor simbolizava o modelo absolutista.