Quando se considera a extrema velocidade com que a luz se espalha por todos os lados e que, quando vêm de diferentes lugares, mesmo totalmente opostos, [os raios luminosos] se atravessam uns aos outros sem se atrapalharem, compreende-se que, quando vemos um objeto luminoso, isso não poderia ocorrer pelo tranporte de uma matéria que venha do objeto até nós, como uma flecha ou bala atravessa o ar; pois certamente isso repugna bastante a essas duas propriedades da luz, principalmente a última.
HUYGENS, C. In: MARTINS, R. A. Tratado sobre a luz, de Cristian Huygens. Caderno de História e Filosofia da Ciência, supl. 4, 1986.
O texto contesta que concepção acerca do comportamento da luz?
a) |
O entendimento de que a luz precisa de um meio de propagação, difundido pelos defensores da existência do éter. |
b) |
O modelo ondulatório para a luz, o qual considera a possibilidade de interferência entre feixes luminosos. |
c) |
O modelo corpuscular defendido por Newton, que descreve a luz como um feixe de partículas. |
d) |
A crença na velocidade infinita da luz, defendida pela maioria dos filósofos gregos. |
e) |
A ideia defendida pelos gregos de que a luz era produzida pelos olhos. |
Huygens, no texto citado pelo enunciado, utiliza a velocidade de propagação da luz e o princípio da independência dos raios luminosos para afirmar que a visão de um objeto luminoso "não poderia ocorrer pelo tranporte de uma matéria que venha do objeto até nós, como uma flecha ou bala atravessa o ar". Ao falar em transporte de matéria, Huygens está claramente se referindo ao modelo corpuscular de luz, defendido por Isaac Newton.
Em nenhum momento Huygens contesta a necessidade de um meio de propagação (alternativa A) e o modelo ondulatório para a luz (alternativa B), do qual ele era um ferrenho defensor. A crença na velocidade infinita da luz (alternativa D) também não é contestada (repare que ele fala na "extrema velocidade com que a luz se espalha" sem afirmar que esta velocidade seja finita) e a ideia de que a luz é produzida pelos olhos (alternativa E) também não é contraposta por nenhuma passagem do texto (ele diz apenas que a visão "não poderia ocorrer pelo tranporte de uma matéria que venha do objeto").